1.
O treinador espanhol Luís Henrique revolucionou o PSG e conquistou a ambicionada Liga dos Campeões.
E não houve quem tivesse esquecido a pequena Xana, a sua filha de nove anos que, em 2019, morreu com um cancro nos ossos.
Quando a vemos a brincar, a rir, a abraçar o pai e a mãe Elena, a correr com a bandeira do Barcelona, quando a vemos viva naqueles vídeos, é difícil ficarmos indiferentes.
Xana era linda.
Luminosa, comunicadora, indomável.
Luís Henrique confessa que nunca conheceu ninguém tão vivo, ninguém tão disponível para receber da vida o melhor que esta tem.
Xana queria tudo, desejava tudo.
Antes de ler quis muito fazê-lo, juntar palavras compreender o incompreensível.
Antes de saber andar, quis muito fazê-lo. Esticava-se ao máximo, punha-se de pé, caía e levantava-se, chorava e ria e tornava a cair e a levantar-se.
Não desistia.
Nunca desistia.
2.
A notícia do cancro foi trágica.
Começou com umas dores que os pais associaram ao crescimento.
Mas as dores tornaram-se insuportáveis.
Vários exames depois… uma biópsia depois… a notícia.
Luís Henrique deixou de treinar a seleção espanhola para ficar com ela no Hospital Santa Joana de Deus, em Barcelona.
Ficaram os três muito juntinhos, todos os dias como se fosse o último. Todos os dias como se fosse o primeiro.
3.
Passaram seis anos.
Luís festejou a vitória do PSG com um sorriso aberto e sem sombra de tristeza. Trazia uma camisola com um desenho da sua princesinha.
E nunca lhe vimos lágrimas.
Contam-se aliás pelos dedos da mão, e ainda sobram dedos, as vezes que chorou à frente do público.
Ele explica a razão e a sua explicação é que me emociona, a sua explicação é que o distingue da maioria dos comuns mortais.
4.
Quando lhe perguntam pela Xana, se a sua morte o transformou no mais infeliz dos homens, Luís responde:
“Como poderia ser isso verdade? A minha filha veio morar connosco durante nove anos maravilhosos. Temos mil lembranças dela, vídeos e coisas incríveis, lembramo-nos dela todos os dias”.
Um dia, ao chegar a casa da mãe, Luís Henrique percebeu que não havia fotografias de Xana.
Foi procurá-las, abraçou a mãe e pediu-lhe para voltar a pô-las no lugar da vida.
“Mãe, a tua neta foi a melhor coisa que nos aconteceu, somos sortudos. E não devemos esquecer a sorte que tivemos por a ter”.
5.
Foi por isto, e não apenas pelos quatro jogadores portugueses, que torci para que o PSG triunfasse.
Por esta incrível mensagem que nos agita as entranhas.
Que maravilha.
E é verdade, que sorte a do Luís e da Elena.
E que sorte a da pequena Xana por ter tido o privilégio de ser amada por estes pais durante e depois da sua vida.
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