1.
Tolentino de Mendonça, filho de pescadores, talvez um dia possa ser pescador de homens.
Sou patriota.
Gosto que os nossos sejam do mundo, que o possam influenciar, que sejam faróis de que possamos ter orgulho.
2.
Tolentino seria um maravilhoso Papa.
O segundo português na história.
Como Pedro Hispano é um homem culto, carregador de bibliotecas e letras.
Tolentino é feito de poesia, Pedro era um médico que todos respeitavam no Vaticano.
3.
Conheces a história do primeiro e único Papa português?
Lembras-te dela?
É impressionante e trágica.
Pedro nascera em Lisboa, filho de Teresa e Julião.
Não sei se tinha irmãos, mas toda a gente tratava a sua mãe por Teresinha – perto do Terreiro do Paço, na zona ribeirinha, muitíssimo antes do terramoto, era popular entre as vizinhas.
Uma referência entre as senhoras de boas famílias.
4.
O pai era médico e não se preocupava com missas e beatices. Gostava de tratar dos enfermos, eram a sua religião.
Só que Pedro, que se habituara a seguir o pai nas deambulações pelos feridos da reconquista, por doentes e gangrenados, tinha alma de cientista, mas isso não o impedia de desejar uma relação próxima com Deus.
Entregou a sua vida e o seu talento ao catolicismo.
Uns iam para a guerra, outros para a corte de Sancho II e Afonso III, mas Pedro queria mais… ser médico como o pai e descobrir o que estava para lá do corpo, ser da terra e ser do céu, ser dos homens e ser de Deus.
5.
Adoravam-no em Roma.
Conhecia a Bíblia no que estava para lá das palavras, mas sabia o que eram vísceras e o corpo do corpo – bispos e cardeais faziam questão de o convidar para a sua mesa.
E ele foi bispo.
E depois cardeal.
Em 1276, século XIII, os católicos acreditavam que havia uma maldição, que o Diabo entrara na casa de Deus.
Tinham morrido Papas atrás de papas, três seguidos com pouca distância entre eles.
Em poucas semanas finaram-se Gregório X, Inocêncio V e Adriano V.
Reuniu-se o conclave e imagino que vários cardeais não achassem piada nenhuma à ideia de assumirem um lugar amaldiçoado.
6.
Foi escolhido o nosso Pedro e, a partir daquele dia de fumo branco, o mundo conheceu-o como João XXI, o primeiro e único Papa português.
Foi um dia mágico.
Estava calor e João XXI foi honrado por fiéis que temeram por ele.
Com razão.
Oito meses depois, estava o nosso Papa a trabalhar no seu quarto, quando o teto ruiu na sua cabeça matando-o instantaneamente.
A Europa cristã atemorizou-se por ser a prova de que o Diabo estava vivo.
Mas eu pergunto com a maior candura de que sou capaz: em algum momento ele esteve morto?
Se sim, convenhamos que não parece.
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