1.
Dentro da palavra “amor” tudo se joga.
Pode perder-se ou ganhar-se, podemos até perseguir o sentido da palavra e gastar uma vida nessa procura.
Às vezes encontramos a definição certa, imaculada, incontestável.
Noutras, a vida baralha-nos e voltamos a dar as cartas já sem o sorriso dos ingénuos, dos intocáveis, dos que um dia achavam que o seu baralho era o tal, que a sua palavra era a certa, que a pessoa ao seu lado era um amor perfeito.
2.
Dentro da palavra há estética e boa literatura.
Mas também mau-gosto e prosa de cordel.
Há pessoas que dizem “amor” e tudo para.
E há outras que dizem “amor” e parece um disco riscado e ordinário.
Há abraços que parecem uma viagem ao pico mais alto dos Himalaias.
E abraços que nos fazem sonhar com os abraços que nunca demos.
Cada noite para quem ama pode ser apaixonada, mas é sempre uma promessa de tranquilidade, uma segunda vida que se cumpre dentro dos sonhos.
Mas cada noite pode também ser uma desistência, um cansaço, uma vontade de dormir para ter a força de aguentar o dia seguinte.
3.
Ah, o amor.
Perseguimo-lo sem sabermos a sua verdadeira cara.
E quando o temos, muitas vezes, não sabemos que não o é.
Mas por vezes é mesmo.
Por vezes somos o bilhete premiado pelos céus.
Quando acontece o nosso coração dispara e acalma ao mesmo tempo – um milagre paradoxal, aceleramos e respiramos fundo, beijamos apaixonadamente e abraçamos como se não tivéssemos corpo.
4.
Quando amamos, quando o “amor” nos toca, a pessoa ao nosso lado é a nossa casa.
O nosso porto.
O nosso prolongamento.
A pessoa que nos faz ir mais longe e oferecer ao mundo o melhor que temos.
Também a pessoa por quem fazemos o que for possível para que se possa cumprir.
5.
Hoje era isto.
Um apelo a que não deixes de perseguir o amor – mesmo que já o tenhas encontrado não te acomodes na certeza.
Não deixes de escrever a palavra.
Não deixes de acreditar na boa literatura e na vida.
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