1.
Camilo Lourenço comunica muito bem.
Sabe falar às pessoas comuns, fazê-las acreditar numa verdade única, a sua própria verdade.
Acena-lhes com ambição, com hipóteses de fazerem dinheiro, simplifica conceitos difíceis, torna o complicado fácil como se a culpa de as coisas não acontecerem fosse de gente má, horrível, perversa, incompetente, corrupta.
2.
Camilo é um líder de um novo tempo.
Fala para pessoas através do telemóvel. Entra-nos pelas aplicações, pelos algoritmos, é o profeta radical cuja única ideologia é o seu próprio umbigo, as suas certezas, as suas promessas de um novo mundo, as suas incitações à revolta – mesmo que sejam feitas sem palavras concretas.
Camilo Lourenço é um deus do individualismo, da raiva contra o poder instituído, deseja um novo tempo, sem estas instituições, sem esta ou outra democracia.
3.
Conheço o seu trabalho, antes e depois de se ter tornado um guru de um extremismo mascarado de verdade.
Há uns vinte anos contratei-o para o Rádio Clube Português e não me arrependi.
Camilo era um liberal, mas ainda não se tinha tornado um soldado de Darth Vader…
… tornou-se uma estrela na estação e com todo o mérito.
4.
Camilo Lourenço tornou-se depois mais agressivo.
Passou a ver mal em tudo.
Tornou-se sombra, nevoeiro, ressentimento, ruído, maus pensamentos, julgamentos de valor.
É um vírus dentro do sistema.
Uma bactéria que se infiltra com o medo por aliado.
E sim, também ouvi o que disse sobre Lídia Jorge.
O modo como a agrediu.
A desfaçatez e má educação levada ao extremo.
Chamar “rapariga” a Lídia Jorge…
… tentar ridicularizar as suas palavras descontextualizando toda a sua mensagem – e logo ele, filho de goeses, e a prova viva de que Lídia Jorge tem razão.
Que pena.
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