1.
O que é o mal?
Pergunto-me quando vejo pessoas a fazerem coisas horríveis por pura maldade, por completa ausência de empatia ou por uma incompreensível amoralidade.
Pergunto-me também quando leio comentários horríveis e perversos em redes sociais.
Ou quando oiço notícias de casos que desafiam o entendimento.
2.
Que mundo é o que vimos no recreio daquela escola na Moita?
Quem é aquele miúdo que espanca um colega autista?
Que o humilha?
Quem são os que gravam as imagens nos seus telemóveis?
Os que riem alarvemente enquanto rodeiam o que é agredido numa arena de animais selvagens?
3.
Não consegui deixar de chorar quando vi o miúdo, depois de pontapeado, a arrumar a mala e a soluçar de sofrimento e angústia.
Não consegui deixar de ficar em silêncio com a reação dos miúdos, totalmente enlameados pela sua própria barbárie.
O que esperar de todos eles no futuro?
O que raio serão dentro de uns anos? Há alguma razão objetiva para esperarmos uma redenção? Um volte-face? O ganho de uma consciência? Uma luz que lhes rebente a negritude?
4.
O agressor não estava a bater num miúdo qualquer.
Estava a bater num miúdo autista.
Os outros não se estavam a rir num combate estúpido de aspirantes a galos, estavam a rir-se de um miúdo a quem a vida não tratou bem, um miúdo a quem qualquer pessoa digna desse nome protegeria e trataria com carinho.
Que mundo é este?
Que recreio é aquele?
Os miúdos dos outros recreios também são assim?
Os nossos filhos poderiam estar ali?
O que é o mal?
Onde está essa sombra negra?
O que contaminou?
Onde poderemos estar a salvo?
Em que bunker estaremos protegidos?