1.
No julgamento do Banco Espírito Santo não há bons e maus.
São todos maus.
Os que mentem.
Os que já não podem mentir por doença ou por morte.
E até os que juram dizem a verdade.
Todos, mas todos, parecem farinha do mesmo saco.
2.
Ricardo Salgado já não está cá.
Evadiu-se sem nunca ter ido preso.
Uma fuga mais espetacular do que aqueles quatro criminosos de Vale de Judeus.
Foi para dentro e o que resta do seu corpo não pode ser julgado.
3.
Mas depois há o outro.
O homem que deveríamos aplaudir por ter tido a coragem de se “desbroncar”.
Só que não.
José Maria Ricciardi tem a empatia de uma hiena.
O que diz.
A forma como o diz.
A maneira como enfrenta as câmaras de televisão e as pessoas que o olham, quer sejam juízes, procuradores, advogados ou o homem do talho, é de cima para baixo, com um tom de superioridade que não cola com as palavras que lhe escancaram a boca, palavras de taberneiro gourmet, de toureiro numa arena sem público.
4.
Devíamos aplaudir Ricciardi, mas valha-me Deus…
… quando o vejo causa-me desconforto, mudo de canal, é-me insuportável a sua arrogância e a forma como traiu toda a gente como se fosse um puro.
Bem-nascido, educado em bons colégios, mas tão destemperado, tão fora de tom.
Lembras-te de quando disse que ia salvar o Sporting e se candidatou às eleições do clube?
Era tão mau que mesmo acenando com milhões, e mesmo sendo banqueiro, teve pouco mais de dez por cento dos votos.
Atrás de toda a gente.
Convenhamos que era difícil fazer pior.
5.
Talvez este Postal seja injusto para José Maria Ricciardi.
Mas não gosto de pessoas que tratam mal outras pessoas apenas por serem bem-nascidos ou terem dinheiro.
Não os suporto.
Se José Maria Ricciardi é o bom desta história, imagina a qualidade dos maus.
Distância dessa gente.
Texto e programa de Luís Osório
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