A música tem-se feito valer no mercado editorial português, e a Antena 1 dá conta desse fenómeno no seu novo programa das noites de quinta-feira. “O Papel da Música” é uma proposta de Rui Miguel Abreu – nome habitual nos vários canais da rádio pública – em torno de livros sobre os sons que marcam a nossa história e a nossa atualidade.
Um novo livro pode dar o mote a uma emissão, tal como um conjunto de edições específicas, mas no centro do programa estarão sempre as conversas com autores, editores, jornalistas e artistas.
Leia a entrevista da Antena 1 com Rui Miguel Abreu sobre este novo formato – e ouça o primeiro episódio, com Henrique Amaro, radialista da Antena 3 e autor de “Eu Estive Lá”, que compila bilhetes de concertos em Portugal de 1965 a 2022.
Como aconteceu esta “verdadeira expansão” dos livros sobre música no nosso mercado? Quando se começou a registar essa viragem?
Bem, não possuo dados concretos, nem posso falar de análises de mercado, mas sei que durante anos, enquanto pessoa necessariamente atenta por escrever sobre música regularmente na imprensa nacional, sentia que o nosso país era quase um deserto no que à edição livreira sobre música dizia respeito, sensação aliás muitas vezes discutida com os meus colegas. Por várias vezes no “Precisamos de Falar” na Antena 3, programa que fiz durante alguns anos com os meus companheiros Luís Oliveira, Ana Markl e Nuno Galopim, assinalámos edições importantes, como foram, por exemplo, os livros do Luís Freitas Branco ou de Ricardo Farinha.
E o ritmo começou nestes últimos a intensificar-se, com novos livros sobre cantautores, sobre hip hop, sobre ícones da nossa música, livros de ensaio ou biográficos, mas também de recolha de acervos fotográficos a chegarem em quantidade assinalável aos nossos escaparates. Essa “expansão” juntamente com a profusão de novas livrarias que ostentam prateleiras bem recheadas com títulos nacionais e internacionais reforçou essa noção de que atravessamos agora uma era de ouro no que à edição de livros que versam sobre música diz respeito.
Que convidados podemos antecipar para esta primeira temporada?
O Henrique Amaro é uma pessoa de ideias singulares e está na base de um dos mais originais livros sobre música que conheço, o Eu Estive Lá, que reúne bilhetes de concerto que marcaram a história da música no nosso país. É o primeiro convidado. Depois teremos igualmente Ricardo Farinha, que além do livro com a História do Hip Hop Tuga ainda teve mão na edição do catálogo da exposição Filhos do Meio, já este ano.
O enorme Octávio Fonseca falará sobre edições recentes que assinou sobre Luís Cília e Carlos Paredes, o André Letria vem falar-nos sobre a música que existe na interessantíssima colecção Pato-Lógico que coordena, o Luís Carlos Amado recordará o Rock Rendez Vous através do livro de fotografia que coordenou e finalmente daremos atenção um dos mais incríveis documentos fotográficos que conheço, o livro que reúne as fotos que Vitor Torpedo tirou durante a primeira digressão americana dos Tédio Boys.
O que podemos esperar destas conversas, e da estrutura de cada episódio?
As conversas, espero eu, serão reveladoras das intenções dos autores, abordarão os métodos de produção, os obstáculos e as superações. Quero que estas conversas sejam convites à leitura, que permitam a descoberta destes incríveis livros que todas as pessoas que em Portugal se interessam por música deveriam conhecer. E claro, a música terá um papel n’”O Papel da Música”: os convidados são sempre desafiados a escolherem músicas que ilustram bem os conteúdos dos livros que lançaram.