E desta vez será a última… Ou, se notarmos o tom com o qual Paul McCartney refere esse detalhe no pequeno documentário que apresenta “Now and Then”, estaremos perante aquela que, “provavelmente, será a derradeira canção dos Beatles”. Será editada em vários formatos – sete polegadas em vinil azul e também, vinil branco, doze polegadas em vinil negro e CD Single, além do já dominante ficheiro digital para streaming – e integrará o alinhamento da nova edição do mítico “álbum azul”, a segunda das duas compilações editadas em 1973 (a outra era o disco “vermelho”), ambas com data de regresso às lojas de discos agendada para amanhã, cada qual agora no formato de triplo LP (ou seja, tanto uma como a outra com mais canções do que as que conhecemos nos alinhamentos fixados há 50 anos).
“Now and Then” tem na génese uma origem em tudo semelhante à que nos deu, nos anos 90, os temas “Free as a Bird” e “Real Love”, ou seja, era uma maquete gravada em casa por John Lennon nos anos 70, revelando, numa pista única a sua voz e o piano que a acompanhava. Contudo, ao invés do que havia acontecido com essas outras duas canções – respetivamente lançadas em single em 1995 e 1996 – as sessões de trabalho em volta de “Now and Then”, que juntaram então Paul, George e Ringo, revelaram dificuldades difíceis de superar, justificadas pela qualidade da gravação e o modo como a voz e o piano estavam, ali, sobrepostas e diluídas…
“’Now and Then’ acabou na gaveta”, como nota o documentário que não refere, como o fazem outros textos entretanto publicados, que terá sido George Harrison a sublinhar que não seria viável trabalhar esta canção. O filme observa, contudo, que George nos deixou em 2001 e que foi mais de 20 anos depois que a canção voltou a estar na berlinda, desta vez como consequência de avanços tecnológicos desenvolvidos pela equipa de Peter Jackson durante a criação do documentário “Get Back”, que partiu de gravações em áudio e em filme que datam de janeiro de 1969 das quais foi possível isolar vozes específicas, tornando nítidas palavras que originalmente eram quase impossíveis de escutar. Aplicada a mesma tecnologia à fita caseira de Lennon, a sua voz em “Now and Then” tornou-se agora bem clara e… isolada face ao piano que a acompanhara. Paul e Ringo juntaram-se em estúdio, recuperando partes de guitarra gravadas por George nos anos 90 e acrescentando um solo de slide guitar ao que ele teria feito… E assim, em 2023, 60 anos depois daquele 1963 que viu a banda saída de Liverpool a transformar-se num caso de sucesso à escala europeia, eis que podemos escutar aquela que nos é apresentada como a última canção dos Beatles.
Texto de Nuno Galopim
“Now and Then” pode ouvir-se na Antena 1 a partir das 14h de quinta, dia 2 de novembro e será apresentada no “Gira Discos Diário” de sexta-feira dia 3 (pouco antes das notícias das 9h), bem como na edição deste sábado do “Destacável”.