Final de 1974. O país está em revolução acelerada, sem tempo a perder, nem possível volta atrás. Para quem sempre usou a música para agitar a malta, como José Afonso, foi um mergulho completo e inteiro nessa utopia coletiva. E é precisamente no meio dos muitos concertos improvisados, das infindáveis sessões de esclarecimento e do ardente consumo físico, que surge uma das obras mais marcantes de José Afonso, agora remasterizada, e reeditada pela Mais5.
Coro dos Tribunais é uma colheita que junta as muitas castas do caminho criativo até então trilhado pelo cantautor: as baladas e canções, em Não Seremos Pais Incógnitos; a fusão modernista (a que um dia haveriam de chamar world-music), em Lá no Xepangara e Ailé! Ailé!; as geniais músicas que Zeca criou, anos antes, em Moçambique, para teatro, sobre textos de Bertold Brecht – tão adequados ao momento; o universo surrealista e mordaz, em A Presença das Formigas ou Tenho um Primo Convexo; os hinos à mobilização solidária em Só Ouve o Brado da Terra e, claro, O Que Faz Falta.
Esta é uma constelação de músicas laminadas na estética singular de José Afonso, à qual se junta a sofisticada direção musical de Fausto e um trabalho de grupo com Adriano Correia de Oliveira, Carlos Alberto Moniz, Michel Delaporte, Yório ou Victorino.
- A reedição da obra de José Afonso em CD, vinil e digital conta com o Apoio Antena 1. De 26 de setembro a 7 de outubro, pode ouvir vários temas de Coro dos Tribunais na emissão em direto.