Em “Fado Camões”, abre-se um novo capítulo na carreira de Lina, com Justin Adams, conhecido músico, compositor e produtor britânico, cúmplice de Robert Plant e da sua banda. Na maior parte dos projectos onde se envolveu existiu sempre essa ideia de partir de estruturas sólidas, linguagens enraizadas na tradição, sejam blues, folk ou alguma música africana, e atribuir-lhes outras perspectivas, daí que não espante o desejo actual de abordar o fado e a voz de Lina.
Para além da graciosidade e do despojamento que rodeia a sua voz, dos acordes cristalinos da guitarra portuguesa que nos remetem para o fado, existe também um certo ambiente e balanço africanizado, como se o duo tivesse ido também à procura das origens e ligações entre fado e África.
É um álbum que, como se ouvirá, coloca a poesia de Camões em cenários de melancolia e suspensão, mas também de celebração da existência. Na concepção sonora, em estúdio, a rodear a voz de Lina, esteve a guitarra portuguesa de Pedro Viana, o piano, teclas e arranjos de John Baggott, músico e compositor que já operou com os Massive Attack ou Portishead, e também, em dois temas, Ianina Khmelik, no violino.
É um novo capítulo que se começa a escrever, depois de Lina ter começado a cantar aos 10 anos no Círculo Portuense de Ópera e ter estudado no Conservatório, antes de se apaixonar pelas casas de fado, que nunca abandonou, e ter gravado os álbuns “Carolina” e “EnCantado”, assinados como Carolina. Depois vieram tempos de crescimento musical, e de expansão de horizontes, nomeadamente com a premiada colaboração com Raül Refree e, agora, existe Camões no seu horizonte e uma sonoridade renovada, onde o centro é ainda e sempre a sua expressividade vocal, sensorial, latejante, cheia de vida para nos tocar.