Concertos nos Coliseus com apoio da Antena1:
Lisboa dias 19 e 20 de Fevereiro,
Porto dia 21 de Fevereiro.
Triunfo em França
Uma maratona de 13 concertos em 12 dias, que levou António Zambujo a 6 cidades francesas deixou o público gaulês irremediavelmente rendido ao seu talento e encanto. Em apenas dois dias foram vendidos mais de 1.000 discos no prestigiado evento Folle Journée de Nantes, logo após ter atingido o primeiro lugar do Top World Music do iTunes Francês.
Aos concertos, António Zambujo somou um périplo mediático pelos meios de referência franceses: deu 14 entrevistas à imprensa escrita, participou em 6 programas de rádio e 2 dos seus concertos foram transmitidos, em directo, em canais de televisão franceses. Em Paris, Laval, La Fleche, Challans, Cholet e Nantes, António Zambujo, acompanhado de uma equipa de 6 pessoas, actuou para um total de 8 500 espectadores.
O artista português regressa agora a casa para continuar a apresentar "Rua da Emenda" – já galardoado com a marca de Ouro e prestes a atingir a Platina – ao público nacional, subindo aos palcos dos Coliseus (Lisboa, 19 e 20 de Fevereiro e Porto, 21 de Fevereiro) para três espectáculos que já se encontram praticamente esgotados.
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DISCO ANTENA 1
António Zambujo está de regresso com um novo disco.
Chama-se Rua da Emenda e é disco Antena 1. É o sucessor de Quinto, editado em 2012.
O álbum que foi gravado no Verão de 2014 nos ‘Atlantic Blue Studios’, Oeiras (excepto “Viver de Ouvido” gravado em casa com iPhone 5) tem produção de Ricardo Cruz.
"Rua da Emenda" dispensa os condicionamentos de trânsito, porque, guiados pelo sinaleiro que canta, todos têm lugar. Não há sequer problemas de estacionamento: aos lugares reservados para os colaboradores habituais – de João Monge a Maria do Rosário Pedreira, de Ricardo Cruz a José Eduardo Agualusa, entre outros – juntam-se espaços novos e amplos para quem chega e é recebido em festa – Miguel Araújo, Samuel Úria, José Fialho Gouveia, para citar alguns – como acontece sempre que a voz de António Zambujo é o destino.
Alinhamento:
01 Fatalidade (Marcha de Manuel Maria [João Monge / Manuel Maria])
02 Valsa Do Vai Não Vás (Samuel Úria)
03 Pica Do 7 (Miguel Araújo)
04 Flinstones (João Monge / Ricardo Cruz)
05 Barata Tonta (Maria do Rosário Pedreira / António Zambujo)
06 Valsa De Um Pavão Ciumento (João Monge / Luís Silva Martins e Pedro Silva Martins)
07 Na Canção de Brazzaville (José Eduardo Agualusa / Ricardo Cruz e Jon Luz)
08 Despassarado (Pedro Silva Martins / Luís Silva Martins e Pedro Silva Martins)
09 Zamba Del Olvido (Jorge Drexler)
10 Último Desejo (Noel Rosa)
11 Pantomineiro (Edu Mundo)
12 O Tiro Pela Culatra (Maria do Rosário Pedreira / Ricardo Cruz)
13 Valsa Lisérgica (Rodrigo Maranhão / Pedro Luís)
14 La Chanson De Prévert (Serge Gainsbourg)
15 Viver De Ouvido (José Fialho Gouveia / Alice Sepúlveda)
ANTÓNIO ZAMBUJO – Rua da Emenda
"António Zambujo não tem emenda – porque dispensa o descanso, ávido de novas aventuras e desejoso de enriquecer o património que lhe serve de base ao canto de encantar que, de forma oficial e em nome próprio, começou a espalhar por toda a parte há uma dúzia de anos. Agora, dois anos volvidos sobre os primeiros aplausos dedicados a Quinto, faz uma pausa nas actividades de rua – concertos, digressões, colaborações – mas apenas para voltar aos discos, alargando as escolhas (as suas e as do público que lhe segue fielmente os passos) e, como escreveu o Poeta, «tomando sempre novas qualidades». Poderia pensar-se que, depois de largamente ultrapassada a fronteira que separa os candidatos dos artistas verdadeiramente populares, talhado que foi um modus operandi para que se tornasse um dos cantores imediatamente reconhecíveis, no nosso espectro e além dele, António Zambujo se entregaria ao cómodo abraço da insistência. Nenhum juízo seria mais precipitado: sem se «desmentir», sem se «renegar», o cantor teima em saltar fora da sua zona de conforto, acrescentando e não apenas coleccionando, abrindo janelas a surpresas e a novidades que não colidem, antes realçam, a terra firme que pisa, a planície em que caminha, sem redundâncias mas também sem perder o fôlego.
Escolhe, desta vez, uma nova viagem, diferente e aconchegante, aparentemente – e só aparentemente – circunscrita mas capaz de desvendar os segredos e mistérios de um domínio que, à conta de olharmos para cima, ou por cima, tantas vezes desconhecemos e descuramos. Esta é a peregrinação que o conduz, porta a porta, passo a passo, pedra a pedra, do princípio ao fim da Rua da Emenda, ora viela estreita para amores arraçados de fadista, ora avenida larga para escalas que trazem todo o mundo (Brasil, França, Uruguai, África) para a dimensão portuguesa, ora albergue para valsas – e são três – e sambas (ou «zambas»?) que, mantendo a dinâmica e a intensidade, fogem a sete pés de todos os purismos, ora refúgio para figuras populares (o revisor do eléctrico) e integrantes do imaginário colectivo (como em Flinstones).
O mais curioso é que, aplicando um respeito genuíno mas não necessariamente cerimonioso pela individualidade de cada um dos «vizinhos», António Zambujo e os músicos que o apoiam neste palmilhar sem pressa, consegue uma harmonia e um entendimento que nos faz pensar nos tempos em que nos conhecíamos uns aos outros lá na rua e sentíamos mais vontade de ajudar do que necessidade de julgar.
As personagens que Zambujo traz (de volta?) às nossas vidas são autónomas e independentes, respiram por si próprias; mas ninguém poderá negar, logo depois da primeira volta à Rua da Emenda (seguindo os números das portas ou baralhando-os sem nexo de proximidade, tanto dá), que ficam muitíssimo bem num retrato de grupo.
Rua da Emenda é-nos apresentada através de um reencontro, entre Zambujo e um dos seus parceiros mais antigos, Miguel Araújo. Os dois juntos encarregam-se de desenhar nas nossas memórias – não fosse o cenário o carro eléctrico onde tantos afectos se cruzam na simples passagem de um bilhete ou de uma senha de mão para mão.
Dir-se-ia que esses carris deixam os sulcos marcados para sentirmos como as únicas balizas – que não limites – no calcorrear de uma Rua que, como se percebe pelas diferentes pulsações, pelas distintas cadências, pelos humores complementares, ultrapassa os condicionamentos de trânsito. Guiados pelo sinaleiro que canta, todos têm o seu lugar. Não há sequer problemas de estacionamento: aos lugares reservados para os colaboradores habituais – de João Monge a Maria do Rosário Pedreira, de José Eduardo Agualusa a Pedro da Silva Martins, entre outros – juntam-se espaços novos e amplos para quem chega e é recebido em festa – Samuel Úria e José Fialho Gouveia, para citar alguns – como acontece sempre que a voz de António Zambujo é o destino.
De resto, as geografias parecem ajustar-se modelarmente à dimensão desta rua onde, num ápice, cabem os talentos imortais de Noel Rosa, confirmando a paixão de António Zambujo pelo Brasil infinito, ou de Serge Gainsbourg, que certamente gostaria de ouvir a sua Chanson de Prévert subvertida pelos labirintos gerados pela guitarra portuguesa. Esse «domínio dos deuses» convive lado a lado, sem problemas nem hierarquias impostas, com os nossos contemporâneos Jorge Drexler (o uruguaio que já ganhou um Óscar), Rodrigo Maranhão e Pedro Luís (mais dois brasileiros da linha da frente). Daqui, destas latitudes de bom gosto, vem o perfume que reforça os temperos fortes que os poetas portugueses deixam nas mãos e na garganta de António Zambujo, reafirmando-se a sua linha de nunca forçar a voz, como se esta tivesse sido inventada para pairar e planar, sempre um palmo acima, sempre no pleno, mais emocionante quando a cada tempo se descobre que não há grito que valha o sentimento e o domínio, sem defeito um e sem excesso o outro.
Além do mais, sem olhar a fronteiras artificiais e inimigas da estética, estamos perante uma proposta profundamente portuguesa, até pela doçura inquieta, pelo embalo saltitante de uma instrumentação ajustada ao timbre sereno e contagiante do cantor (as guitarras sedimentadas, os sopros contrastantes, o acordeão emergente, tudo entregues a músicos de excepção como Bernardo Couto, Carlos Manuel Proença, João Salcedo, João Moreira, José Miguel Conde, Ricardo Cruz, José Manuel Neto e Pedro Silva Martins, entre outros), esta Rua da Emenda é, afinal, uma rua do mundo. Generosa – sempre são quinze, as portas que se abrem a quem decide percorrê-la. Coerente, muito mais do que na voz única que lhe serve de plano director. Variada, pela multiplicidade de soluções que se descobre em cada uma das paragens. Fascinante, como só aquilo que é simples e autêntico, tangente às nossas vidas mas só «explicado» com a ajuda de talentos superiores. E são muitos os que aqui convergem, para que António Zambujo possa, mais uma vez, ser aprovado por aclamação, e apoiado com adoração.
Daqui a um par de meses (em Fevereiro de 2015), quando António Zambujo voltar aos Coliseus de Lisboa e do Porto, já estas canções serão cantigas da rua, já serão acompanhadas verso a verso por um público que continuará a crescer à sombra desta voz e de canções que, sem paradoxo, agradecem tudo, menos as emendas. Porque são mesmo assim, clássicos instantâneos, manifestos íntimos e bandeiras que não excluem, antes reúnem. E voltamos ao princípio: António Zambujo não tem emenda, e só assim se percebe que tenha conseguido reconstruir, com varandas e clarabóias, com calçada portuguesa, com pátios interiores e jardins exteriores, com quintais floridos, com janelas soalheiras e, sobretudo, com portas abertas a todos, a Rua da Emenda. Todos à Rua? Mais do que nunca, para cantar e para o resto."
João Gobern
Outubro 2014