Apesar da explosão de ofertas que entrou em cena na segunda metade dos anos 90, o espaço do “álbum de tributo” ocupa um lugar na história da música popular. E entre os títulos que podem competir pelo estatuto de melhor disco de tributo de sempre está aquele quem em 1991, a revista francesa Les Inrockuptibles criou em volta de canções de Leonard Cohen, chamando para as recriar nomes como Nick Cave & The Bad Seeds, R.E.M., House of Love, Peter Astor, Bill Pritchard, Ian McCulloch, Pixies, Geoffrey Oryema, Robert Forster, Lilac Time, Fatima Mansions ou Lloyd Cole, entre outros mais. Ou seja, a primeira liga pop/rock indie de então.
O álbum surgiu do facto de Leonard Cohen frequentemente visitar a cidade de Paris e de ficar então instalado perto do local onde surgira a primeira redação da revista. Um então muito jovem Christian Fervet, fundador da Les Inrocks, julgou então que seria boa ideia apresentar as canções de Leonard Cohen a uma nova geração de ouvintes. E, ao contrário do cenário de reencontro (e popularidade) que Cohen viveu a partir dos anos 90, na década o grande músico e poeta canadiano era uma voz relativamente distante das atenções em vários territórios. Ao invés de Portugal, onde não só não estava esquecido, como de resto o álbum “Various Positions” (1984) passara semanas a fio no top de vendas, esse mesmo disco de Cohen não fora então sequer editado nos EUA. E quando originalmente editado, o sucessor “I’m Your Man” (1988), hoje reconhecido como clássico, não obteve globalmente o reconhecimento que atualmente justificçadamente goza.
Na verdade coube a “I’m Your Fan” um papel importante na contribuição para na criação de um reencontro alargado de vários públicos com as canções de Leonard Cohen. E do impacte do disco – que o próprio Cohen acolheu com a sua característica gratidão – foi tal que, como observa o volume 147 da série 33 1/3, precisamente dedicado a “I’m Your Fan” , a editora encarou depois de modo diferente o lançamento de um novo disco de originais do músico. O autor deste livro lembra ainda que foi ao escutar a versão de John Cale aqui incluída que Jeff Buckley decidiu criar a sua própria leitura de “Hallelujah” que, entretanto, se tornou visita frequente em concursos de talentos, uma vez que permite (ou pode permitir) expor qualidades vocais dos concorrentes. Pois é, o estatuto pop de “Hallelujah”, que hoje muita gente cantarola, nasceu do impacte da versão de Buckley, que é, por sua vez, uma versão do original revisto depois de encontrada a abordagem de John Cale em “I’m Your Fan”…
Vale a pena lembrar que “I’m Your Fan” abriu um importante filão de álbuns de tributo o velho mestre canadiano, seguindo-se a este álbum de génese parisiense “Tower Of Song: The Songs of Leonard Cohen” (disco de 1995 com contribuições de Suzanne Vega, Elton John, Sting, Tori Amos ou Martin Gore, entre outros) ou outros mais, entre os quais a banda sonora do documentário “I’m Your Man” (2005) que inclui versões por vozes como as de Rufus Wainwright, Nick Cave ou ou U2, estes em dueto com o próprio Cohen.Em França uma rede de lojas lançou na altura um CD promocional extra como disco-companheiro deste tributo. Chamou-lhe “More Fans” e ali surgiam “The Queen and Me” por John Cale, “There Is A War” por Ian McCulloch, “Suzanne” por Geoffry Oryema e “Papethin Hotel” pelos Fatima Mansions.