Os músicos da veterana Orchestra Baobab não deixaram ninguém imóvel na Praça Luís de Camões na cidade da Praia (Cabo Verde) que, por três noites, é o coração da 12.ª edição do Kriol Jazz, festival já com história e grande reconhecimento internacional que regressa após três anos de silêncio (que se justifica, como de resto foi explicado, a toda a plateia, pela urgência de saúde pública que todo o planeta conheceu).
Naturais de Dakar (Senegal), onde surgiram em 1970, traduzindo desde logo ecos um tempo de procura de nova afirmação das culturas africanas, tão firme nas identidades locais como na busca de uma visão mais cosmopolita (e que política e socialmente se cruza, neste caso, com os tempos que se seguiram à independência dos país e à eleição do presidente-poeta Léopold Senghor), a Orchestra Baobab é descendente de uma referência maior da música africana (a Star Band) e durante anos a fio o grupo tocou regularmente no clube ao qual foram buscar o nome. O clube fechou, mas a Orchestra Baobab manteve-se ativa, tanto nos palcos como nos discos.
E foram os discos (neste caso as reedições pela World Circuit) que, mais adiante, depois de terem colocado um ponto final à sua carreira em 1987, acabaram por reavivar a Orchestra Baobab, que desde então se mantém ativa e assinala agora os seus 53 anos de vida. Toda essa longa e viva história de facto passou pelo palco, onde agora vemos músicos que ali foram chegando em várias etapas do percurso da banda, mas sem que as entradas e saídas determinassem uma mudança de rumo. De resto, as ligações entre as músicas do Senegal (e regiões em volta) com sons e ideias que tanto chegam do Norte de África como de Cuba, são vitaminas ainda bem ativas quando hoje os vemos em palco ou escutamos nas gravações mais recentes (entre as quais está, editado em 2017, um disco que nasceu como tributo a Ndiouga Dieng, vocalista que assumiu o lugar atrás do microfone da banda entre 1975 e 2016, o ano em que nos deixou).
Estrelas em noite de abertura, os músicos da Orchestra Baobab partilharam as atenções de quem ali estava ora com Pamela Badjogo (do Gabão), cativante voz do afro-jazz e os veteranos “da casa” Bulimundo que celebraram 45 anos de vida no não menos contagiante concerto que, imediatamente antes do arranque do Kriol Jazz, assinalou o encerramento da edição do Atlantic Music Expo, que decorreu também na Praia nestes últimos dias (e onde atuaram nomes como a portuguesa Cristina Clara ou o brasileiro Leo Midéa).
Hoje, segundo dia do Kriol Jazz 2023, estarão em palco Tcheka (Cabo Verde), Roosevelt Collier (EUA), Luedji Luna (Brasil) e Bamba Wassoulou Groove (Mali). Amanhã, dia de encerramento, ouviremos Dee Dee Bridgewater (EUA), Lucibela (Cabo Verde), Asa (Nigéria) e os Doctor Prats (Espanha).
Logo à noite, tal como aconteceu ontem, a RDP África assegura as transmissões em direto destes concertos, em emissão especial conduzida por Nuno Sardinha. Os concertos hoje começam às 20h30 (22h30 hora de Lisboa). Em breve poderemos escutar na Antena 1 gravações de alguns dos concertos apresentados tanto durante a Atlantic Music Expo como nesta edição do Kriol Jazz.
Texto de Nuno Galopim
Mónica Mendes conversou com Nuno Galopim, que está a acompanhar o festival na cidade da Praia, em Cabo Verde. Ouça acima o excerto do Programa da Manhã.