Luís Tinoco recebeu a Antena 1, 24 horas depois de ter sabido da conquista do Prémio Pessoa 2024, nas instalações da Escola Superior de Música de Lisboa, onde dá aulas.
O compositor, professor e divulgador de música não esconde a alegria pela distinção, quer a nível individual, quer coletivo. Revela que tem recebido várias mensagens de colegas músicos, compositores, maestros que lhe dizem “sentir-se também incluídos nesta distinção por verem que a sua atividade, a sua profissão e o valor do seu trabalho estão também reconhecidos neste prémio”.
A distinção é atribuída apenas pela terceira vez a uma personalidade do mundo da música. A pianista Maria João Pires e o compositor Emmanuel Nunes foram as outras duas. Os três da área da chamada música erudita. Luís Tinoco avança uma possível explicação: a música de tradição escrita é um género que “normalmente exige um processo de investigação que não é muito diferente, às vezes, do que acontece noutras áreas, seja na escrita literária, seja na própria investigação científica. Não é uma produção que vá ao encontro, às vezes, de um efeito mais imediato.” Mas, faz uma ressalva: isto não significa que “outras músicas de outras áreas não tenham igual valor e não sejam merecedoras da máxima atenção.” Luís Tinoco acrescenta um outro aspeto que reforça a importância deste prémio para esta área musical, o facto da música erudita “ter menos relevo” que outros campos.
Nesta entrevista, que pode escutar aqui na íntegra, Luís Tinoco fala do trabalho de divulgação musical que desenvolve com, entre outros conteúdos, o Prémio Jovens Músicos da Antena 2. Para o compositor é “engraçado que muitos dos jovens que concorrem têm interesses muito ecléticos”. Podem ir “desde ouvir Taylor Swift a Beethoven, Mozart ou Stravinsky”, o que pensa ser uma “riqueza e uma das características desta geração. São um bocadinho camaleónicos porque há uma enorme diversidade de oferta.” O Prémio Jovens Músicos é um “evento extremamente popular e que consegue manter a exigência e o rigor de não se transformar num evento de caça de talentos, mas sim um evento em que se pretende promover e divulgar esse trabalho longuíssimo, muitas vezes solitário e escondido de músicos que pretendem exercer a sua atividade ao mais alto nível de exigência.”
Luís Tinoco não poupa críticas ao poder político por não apostar em políticas públicas que promovam a música em Portugal, longe da tradição de países como Alemanha, França, Inglaterra ou Áustria. “Falta fazer muito!” Em Portugal não há a “intensidade e o cuidado” que se verifica nesses países. “A música tem sido muito castigada por muitas das pessoas, que têm essa capacidade de decidir, verem a música como uma arte performativa.” Para essas pessoas, a música “é uma coisa de entretenimento que se pode consumir, enquanto se fazem outras coisas.”
Quanto ao ensino da música, Luís Tinoco distingue vários planos: “a saúde do ensino da música não é igual nos diferentes patamares do processo. Por exemplo, ao nível mais básico, em muitos aspetos, acho que ainda é profundamente medíocre. Há, obviamente, muitas pessoas que fazem trabalhos extraordinários com as crianças, mas se formos a ver aquilo que é a média nas escolas no ensino básico…” E deixa um exemplo pessoal: “eu pus os meus filhos no ensino articulado, para terem aulas de música no conservatório, porque, a dada altura, uma professora de música punha os meninos a tocarem música pimba em flauta de bisel. E a tragédia é que muitas vezes os pais não se queixam da mesma forma que se queixariam se vissem um professor de português a partilhar livros sem qualquer tipo de qualidade.” Contudo, o Prémio Pessoa 2024 ressalva que ao nível do ensino comunitário, das filarmónicas, um pouco por todo o país, existem muitas instituições que “fazem um trabalho extraordinário”. E nos conservatórios e escolas superiores tem sido realizado um “trabalho notável.”
Nesta entrevista, Luís Tinoco fala do prazer de ser professor; dos estímulos dos alunos; da evolução dos estudantes; do trabalho na rádio; dos primeiros passos na música; do primeiro disco que comprou; da música que ouve – além da erudita; do sonho abandonado de ser cineasta; das fontes de inspiração; de novos projetos; e da incapacidade de tocar a pedido, seja para a família, seja para um Presidente da República.