A estreia a solo de Bryan Ferry ganhou forma em outubro de 1973 num momento de transição entre duas etapas distintas na história da sua banda, os Roxy Music. Brian Eno, teclista e figura marcante nos primeiros discos do grupo, tinha-se afastado depois do ciclo de obrigações promocionais em volta de “For Your Pleasure”, lançado em março de 1973. É então que, entra em cena “These Foolish Things”, um álbum todo ele feito de versões que, a 5 de outubro desse mesmo ano, assinalou a estreia a solo de um cantor elegante que, então, queria assim alargar os horizontes pelos quais se apresentava.
Não deixa de ser curioso verificar aqui uma afinidade (e ao mesmo tempo um contraste) entre as opções de Ferry nesta sua estreia a solo e as que, também em 1973, levaram David Bowie – outra estrela do firmamento glam rock – a editar, em “Pin Ups”, um álbum também todo ele feito de verões. A maior diferença, além da abordagem instrumental, tem a ver com a matéria prima que cada um chamou aos alinhamentos. Bowie olhou em volta de nomes e canções com um peso formador do seu gosto e definidas sobretudo num espaço que ele mesmo conheceu pessoalmente, no Reino Unido de finais dos anos 60. Já Bryan Ferry concentrou as suas atenções, salvo em algumas exceções, para o lado de lá do Atlântico, escutando vários cancioneiros, chegando mesmo a recuar aos anos 30 (no caso da canção que deu título ao disco).
O álbum abre com uma primeira entre as muitas abordagens que, ao longo de toda a sua obra, faria à obra de Bob Dylan, logo aí mostrando a demanda por caminhos diferentes para a sua afirmação como intérprete. O crooner pop começava a nascer, cantando depois tanto canções dos Four Tops, dos Miracles, dos Beach Boys ou o clássico “It’s My Party” de Lesley Gore, visitando os Beatles e os Rolling Stones respetivamente em “You Won’t See Me” e “Simpathy For The Devil”. A estreia a solo deu-lhe um dos melhores discos de versões alguma vez criados por uma figura do firmamento pop/rock. E de certa maneira “These Foolish Things” acabaria por lançar caminhos aos quais a sua obra, sobretudo a solo, regressaria muitas vezes daí em diante.
O assinalar dos 50 anos sobre a edição dos álbum de estreia de Bryan Ferry e, também, o meio século de vida de “Pin Ups” de David Bowie, deu o mote para mais um episódio do “Gira Discos”. Sob o título “As Canções dos Outros” este episódio revista não apenas estes dois discos mas também outros álbuns nos quais se apresentam alinhamentos exclusivamente feitos de versões. Alinham aqui, juntamente com Ferry e Bowie, nomes como os de Patti Smith, k.d. Lang, Sérgio Godinho, Nina Simone, Bob Dylan, Barbara, George Michael, Nick Cave & The Bad Seeds ou os Duran Duran.