Esta terça-feira (7 novembro), Joni Mitchell completa 80 anos de vida: uma criadora todo-o-terreno, da pintura a todos os cantos da música. Uma improbabilidade, porque a canadiana esteve às portas da morte, mas recuperou ao ponto de voltar aos palcos (em 2022) e aos discos (já este ano). O que nos diz isto sobre a voz de “Both Sides, Now”, “Big Yellow Taxi”, “A Case of You” ou “River”?
De acordo com João Gobern, que agora lhe dedica um especial Antena 1, “diz-nos que há, com todas as suas introspeções e metafísicas, um extraordinário amor à vida e à música. Não espanta: em função da poliomielite [na adolescência], Joni Mitchell não desistiu da guitarra e, com problemas no braço esquerdo, desatou a inventar afinações próprias para poder tocar.” Neste percurso personalizado, construiu uma das obras mais incategorizáveis da música popular, atravessando a folk, o jazz, o rock, a pop e a eletrónica, em álbuns clássicos como “Clouds” (1969), “Ladies of the Canyon” (1970), “Blue” (1971) ou “Court and Spark” (1974).
“É, muitas vezes, referida como a melhor das mulheres guitarristas de sempre – e isso não é dizer pouco. Quanto aos tempos mais recentes, é comovente – depois de ter perdido a fala e de ter ficado paralisada – voltar a ouvi-la cantar e tocar como só ela sabe: sempre muito bem”, continua João Gobern. Essa é uma das premissas de “Joni Mitchell, Pessoal e Transmissível“, seriado em cinco capítulos, para escutar até sexta-feira: um por dia, pelas 9h54 e em repetição pelas 16h20. No domingo (12 novembro), depois do noticiário das 14h, a Antena 1 emite um compacto.
Como encara Gobern o desafio de resumir esta discografia? “Enfrenta-se com um prazer quase infinito, daqueles que nos levam a descobrir novos elementos, novos pormenores, novas figuras de estilo a cada audição, em cada canção, em todos os discos”, diz-nos o autor. Ainda assim, Mitchell foi muitas vezes reduzida ao papel de musa para outros vultos como Bob Dylan ou Leonard Cohen, ou limitada ao estereótipo inofensivo da folk confessional. Contrariar essa noção “é mesmo um dos propósitos deste especial. Colar Joni Mitchell ao folk é o mesmo que aplicar esse rótulo, restritivo, a Bob Dylan, por exemplo. Para isso, vamos percorrer as suas aproximações ao jazz, à electrónica, à pop, ao rockabilly, ao doo-wop, até à canção de protesto.”
Não resistimos à curiosidade: para João Gobern, qual o disco predileto da cantautora? “Sou daqueles que faz depender a eleição do melhor disco ou do ciclo mais categórico de Joni Mitchell do momento. Entre ‘Blue’, ‘Court and Spark’, ‘Hejira’, ‘Mingus’, ‘Chalk Mark in a Rain Storm’ e ‘Night Ride Home’, o meu coração balança sempre. E oxalá continue assim, porque isso leva-me a ouvi-los, mais e mais.” Ao longo desta semana, seguimos esta pista, e escutamos Joni Mitchell na Antena 1.