Entre os destaques da nova grelha da Antena 1, há um regresso à história. No passado mês de abril, durante as comemorações da Revolução dos Cravos, escutámos a primeira fase de “Antes da Revolução“: retratos do Portugal de 1973, quando faltava meio ano para o movimento militar que traria a revolução democrática e o fim da guerra colonial.
Agora, Francisco Sena Santos e Clara Santos propõem a temporada seguinte, retomando o ano de 1973 e percorrendo a linha do tempo até 25 de abril de 1974. Episódio a episódio, semana a semana, todas as segundas-feiras trazem um novo episódio do podcast “Antes da Revolução: 1973–1974“: para ouvir pelas 9h50 na emissão da Antena 1, em todas as plataformas de streaming e na RTP Play.
Como complemento ao programa, surge o site oficial antesdarevolucao.pt Trata-se de um “ambiente digital” que expande os episódios com “excertos adicionais das entrevistas realizadas, a biografia dos entrevistados, ligação para conteúdos audiovisuais, nomeadamente para os arquivos da RTP e mais informação relevante sobre o tema que está a ser tratado”.
A paz, o pão, a história verdadeira
No tema de abertura, encontramos a primeira diferença: embora continuemos sintonizados na frequência de Sérgio Godinho, já não se trata de “Liberdade”, mas sim de “Fotos do Fogo”. A primeira canção também servia de índice para os temas dos episódios (os motes mais amplos de “Paz”, “Pão”, “Habitação”), que agora dão lugar a uma abordagem mais pormenorizada. “Manteve-se o Sérgio Godinho e a ideia agora é contar histórias de há exatamente 50 anos, desenhar retratos do Portugal imediatamente antes da revolução”, dizem Francisco Sena Santos e Clara Santos à Antena 1.
“Cada episódio é desenvolvido a partir de um tema que pode ajudar a conhecer a sociedade portuguesa de 73 e 74. A guerra colonial está lá, mas perspetivada sob vários ângulos, as mulheres que também acompanharam os oficiais e as gerações afetadas pelo conflito”, continuam. “Está também o movimento dos capitães, a esses momentos-chave junta-se o instantâneo da música, da literatura, da religião, da educação.”
Estes momentos – como a declaração unilateral de independência pela Guiné-Bissau ou as histórias de mulheres enviadas para a Guerra Colonial – são reconstituídos com a proximidade de quem os vivou, mas também com a distância de quem os estudou: uma dupla abordagem justificada pelo rigor. “A responsabilidade em consiste em ser ouvirmos as pessoas com todo o tempo e cruzar perspetivas, tendo em conta que, 50 anos depois, as narrativas podem ser contaminadas pela passagem do tempo. Procuramos, sobretudo, partir para as conversas e para os temas sem pré-conceitos, ouvir, usar os testemunhos como princípios de caminho”.
Se o título lhe pareceu familiar, talvez esteja a pensar numa referência do cinema italiano: o realizador Bernardo Bertolucci, com “Antes da Revolução” (título original: “Prima della Rivoluzione”, 1964), uma inspiração que os autores confessam. Mas houve outro filme de Bertolucci que configurou maior influência, “mais embebida no que está em fundo ao ‘Novecento’ [1976], a retratar momentos da história italiana, do apogeu até à derrota do fascismo; sobretudo, contou a busca de poesia que está em todo o cinema do Bertolucci.” A sessão continua todas as terças-feiras, na Antena 1 e nas várias plataformas de streaming.