1.
Vi a entrevista de Cândido Costa a Daniel Oliveira.
Vejo-o também nos seus programas no Canal 11, repito os melhores momentos quando estou em baixo, já troquei algumas mensagens onde lhe disse que era muito bom, um dos melhores comunicadores, alguém que me pareceu um daqueles grandes cómicos que têm qualquer coisa de ferida aberta, talvez uma melancolia ou tristeza escondida.
Não tinha nenhuma base para o afirmar.
Agora já tenho, ouvi e vi o Cândido Costa no Alta Definição e fiquei rendido à sua grandeza.
2.
Repara, não foram as histórias que contou – todos já ouvimos histórias mais impressionantes, trágicas, grandiosas.
Foi outra coisa.
Impressionou-me a verdade no que dizia, a intimidade a que nos forçou.
Quando conto histórias de mim são verdadeiras, mas temperadas pelo meu distanciamento, até por uma certa frieza que me protege.
E quando oiço figuras públicas a contar de si, das suas quedas, há quase sempre uma ideia de artificialidade, não são falsas as histórias, mas a maioria de nós faz por torná-las arranjadinhas, tal e qual como quando precisamos de maquilhagem para ir à televisão ou pomos um filtro na cara no Instagram ou no Facebook.
3.
O Cândido Costa falou da sua viagem e acreditei em todos os segundos que não havia filtros.
E em cada uma das suas lágrimas, revi alguns de momentos de mim próprio.
Que grande é o Cândido.
Que foi um excelente futebolista.
Ganhou bom dinheiro.
Estoirou bom dinheiro.
As lesões, uma atrás da outra, obrigaram-no a travar.
Ficou com uma mão atrás e outra à frente.
E na vida, acontece-me tantas vezes, certamente que também a ti que me ouves, quando uma coisa se desmorona vem logo outra atrás. E outra e outra.
Divorciou-se, perdeu muito do melhor do crescimento dos filhos mais velhos, andou desamparado, um cão ferido só com uma pata, como se definiu.
Foi ao Centro de Emprego e Formação Profissional e estava disponível para aceitar o que houvesse, fosse o que fosse. Viu colegas do curso a esconderem o pão no refeitório para levarem para a noite, nunca se esquecerá dessa memória.
Conheceu então a Cidália que lhe abriu a porta. E ele a sua segunda oportunidade.
Reinventou-se.
E o seu mais velho, o Rafael de todos os silêncios, disse-lhe por fim o que o desmoronou de felicidade e apaziguamento: “Tenho orgulho em ti pai e nunca deixei de te acompanhar em todos os minutos da minha vida”.
Hoje é uma estrela.
Faz-nos rir e agora chorar.
Uma referência de verdade num mundo em que a verdade é relativa.
Texto e programa de Luís Osório
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