1.
Carolina Deslandes é uma mulher que não faz as coisas pela metade, é absoluta e visceral, combativa e corajosa, capaz de incendiar Roma e redimir o mundo com um abraço.
Talvez seja a artista portuguesa mais popular da sua geração.
Anuncia-se um espetáculo e esgotam-se os bilhetes.
Mas também é a artista portuguesa mais violentamente criticada por gente que a insulta de tudo, pessoas que a agridem como se a conhecessem e pudessem falar do seu caráter, homens e mulheres que a odeiam sem nunca a terem conhecido.
Nas redes sociais leu as coisas mais incríveis.
Que era desleixada.
Nojenta.
Repugnante.
Gorda.
Que escrevia canções ridículas.
Que não aguentava casamentos por ser insuportável e ter demasiadas opiniões. E demasiados namorados, a prova que não se dá ao respeito.
2.
Carolina Deslandes tem três filhos pequenos.
O mais novo fez cinco anos, cantaram-se os parabéns há poucos dias. Chama-se Guilherme e tem a voz rouca, quem o conhece define-o como terno e absoluto, por outras palavras um prolongamento da mãe.
Há uns tempos, o pequeno Guilherme, perguntou à mãe a razão para existirem pessoas más, o porquê de o serem, o porquê de desejarem fazer chorar gente que nem sequer conhecem?
3.
Fiquei a pensar naquilo.
Nas pessoas horríveis.
Gente que conheço e que é assim.
Gente que certamente também conheces.
Porque são assim?
Porque têm prazer no sofrimento dos outros?
Porque vão para as redes sociais insultar, magoar, vomitar?
Porque há malta má, mesquinha, perversa, amoral?
4.
Querido Guilherme, depois de muito pensar não te consigo dar uma resposta fechada, uma resposta que resolva o assunto na tua cabeça, mas posso partilhar contigo a única certeza que tenho.
Sabes qual é?
Que todas as pessoas más que eu conheço não são nada felizes.
Como poderiam sê-lo se a felicidade é estar bem com o mundo e com os outros? Alguém conhece uma pessoa feliz que deseje que outras pessoas não o estejam?
As pessoas más têm um peso do caraças, querido Guilherme.
Querem ver todos os outros no pântano onde se sentem miseravelmente sozinhas.
É mesmo triste, mas é a vida.
Texto e programa de Luís Osório
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