1.
Era o homem certo no lugar certo.
A PSP passava por um período de indefinição e de ausência de comando. Somavam-se as notícias que davam como certa a influência crescente de movimentos extremistas entre os polícias.
Agentes racistas.
Homofóbicos.
Gente que abusava de força excessiva.
Apoio a ideias não democráticas e aumento do poder do Movimento Zero, conotado mediaticamente com o Chega de André Ventura.
2.
A situação era desesperada e as medidas precisavam de ser excecionais.
Quem conhecia a PSP por dentro soprava sempre do mesmo nome. Um polícia com muitos anticorpos, mas o único que dava garantias de poder acabar com a barafunda com o mínimo ruído possível.
Magina da Silva era o homem.
O único que oferecia garantias.
Um operacional à antiga, com currículo de liderança no terreno, mítico atirador do Grupo de Operações Especiais, o célebre GOE.
Um duro.
O seu perfil fugia dos habituais diretores nacionais da Polícia. O poder político, regra geral, não se dá bem com os duros de filme, preferem os flexíveis.
Mas não havia escolha, o problema precisava de ser atacado.
3.
E ele resolveu-o sem ruído.
Nunca mais se ouviu falar do Movimento Zero ou de reivindicações. Magina negociava na sombra com o ministro e foi implacável com quem saía do trilho.
Tão implacável como quando liderou o ataque aos que fizeram reféns na sede do BES – quem não se lembra do corpo dos assaltantes a tombar com dois tiros certeiros de um sniper?
Ele era o sniper que depois coordenou a segurança em algumas das operações mais delicadas dos últimos vinte anos – visitas de Papas, Cimeira da NATO, ataques cirúrgicos a bairros de droga e tráfico, o que houvesse.
Licenciado em Ciências Policiais, formou na universidade e no ginásio os corpos de elite da polícia.
E lá dentro, mesmo entre os que o odeiam, é quase consensual que Magina é o primeiro a dar o exemplo, o primeiro a aguentar a dor e o melhor atirador da história da Polícia.
4.
O governo premiou-o com um cargo em Paris.
Uma boa maneira de terminar a carreira e de ganhar mais algum, justa compensação por todos estes anos.
E ele foi para Paris onde descansa na Embaixada Portuguesa.
Foi a melhor notícia possível para quem continuou a desejar a subversão do sistema. Com Magina fora aconteceu o que o país viu.
Uma constatação que não retira uma vírgula à justeza das reivindicações – o poder político terá que resolver o tema na próxima legislatura.
Só que a questão não é essa.
Magina está em Paris e o poder caiu na rua.
O único lugar em que o poder não pode cair… sobretudo quando falamos das pessoas que têm as armas para defender a democracia.
Que o homem volte do exílio como os antigos generais regressavam de Roma.
Texto e programa de Luís Osório
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