Habituou-se ao palco nas performances escolares. Entre os aplausos e os elogios transmitidos aos pais, o “mzungu” pressentia ser aquele um lugar especial. Cresceu feliz, numa comunidade contagiada pelo riso e pela partilha, lá na vila do Songo, província de Tete, em Moçambique, onde o pai, português, conheceu a mãe, moçambicana. Quando aos 12 anos chega a Portugal, o “filho do pai branco” desperta para uma outra realidade. Conversamos sobre esse caminho, que só mais tarde o levará, de novo, aos palcos. Encontrando o seu lugar de fala, a sua voz, a sua identidade. Pelo meio há palavras feias, perguntas invasivas, traços e vincos de um passado colonial, que foram deixando marcas e cicatrizes. E que o actor, encenador, e autor, desarma com a linguagem do humor, em peças que esgotaram salas.
Depois de “Blackface” (2023) e “Reparations Baby!” (2025), uma terceira criação parece surgir no horizonte. Ainda sem forma, sem nome, ou sequer um esquiço: “ando a pesquisar sobre hinos nacionais”, desvenda. Até lá podemos continuar a vê-lo no elenco da peça “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas”, que regressa em Janeiro à Culturgest, em Lisboa, e em novembro, estreia no Planetário do Porto o monólogo “Hotel Paradoxo”.
Marco Mendonça, Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II 2025, é “Pessoa para Isso”.