1.
Não se fala por ser íntimo, por ser coisa nossa, por poder até colocar em causa o natural e justo empoderamento feminino ou a cultural misoginia masculina, mas o tema não pode ser desvalorizado.
Falo-te das mulheres quando chegam aos 50 anos.
Das mulheres quando se aproximam ou vivem a menopausa.
Falo-te das crises conjugais entre homens e mulheres, do final dos casamentos quando elas chegam ao fim da idade fértil e eles procuram outros estímulos, outras experiências, mulheres mais novas.
2.
Este é um outro tempo, certo.
Evoluiu-se muito, também certo.
Porém, a maior percentagem de divórcios entre homens e mulheres acontece nesta idade, entre os 45 e os 55 anos.
O corpo muda, a capacidade de aguentar certas coisas também, uma falta de paciência para o que antes era tolerado, uma irascibilidade que não se conhecia.
3.
O envelhecimento torna-se um problema, é até normal que algumas mulheres passem a ver coisas no espelho que antes não viam e que mais ninguém vê.
É hormonal e biológico.
Por vezes, a tristeza é amplificada.
E a desconfiança também.
Por vezes, toma-se comprimidos para se atenuar os gritos ou a vontade de gritar. Comprimidos que engordam, que obrigam a uma lentidão que atenua a vontade de estar acordada para a vida.
4.
Há homens que parecem ter casado com um corpo. Quando o corpo se começa a alterar saem da relação. E geralmente procuram outra relação com um corpo mais novo, mais desejável, mais ao encontro do que julgam ser e merecer.
É difícil fazer generalizações.
Acredito que a maioria não é assim, mas estes de que falo são um clássico. Estão na vida real, nos filmes e séries, nos romances e ensaios, em peças de teatro e consultórios de psicanalistas e terapeutas de casal…
… estão um pouco por todo o lado e todos conhecemos histórias e pessoas que viveram ou vivem o que mantêm calado.
Mulheres que quando chegam aos 50, vivem o mais absurdo paradoxo – o de viverem o pico da sua sexualidade, mas o de serem olhadas como se estivessem na curva descendente ou mesmo num processo de decadência física.
Isto enquanto vemos os homens de 50 já sem o fulgor do passado, mas a serem olhados como se estivessem na plenitude da sua forma.
Fala-se das várias injustiças que as mulheres têm de combater, da discriminação nos ordenados, no trabalho doméstico, na dificuldade de compatibilizar a maternidade com a vida profissional, mas fala-se pouco ou nada da ironia de serem tantas vezes maltratadas ou postas de lado por envelhecerem quando, na verdade, a sua predisposição para o prazer nunca esteve tão em alta.
É caso para dizer que alguns homens não sabem o que perdem.
Texto e programa de Luís Osório
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