1.
Bolsonaro, no Brasil.
Trump, nos Estados Unidos.
Meloni, em Itália.
Orbán, na Hungria.
Javier Milei, na Argentina.
A hipótese de Le Pen ser poder em França.
A ascensão neofascista ou de extrema-direita na Alemanha, Holanda, Suécia e Finlândia.
E André Ventura, em Portugal.
O que sucede aqui é a consequência do que se passa um pouco por todo o lado. Os ventos da história mudaram, a democracia está ligada à máquina e o individualismo e ressentimento superam a ideia de liberdade.
É preciso dizer uma coisa simples, direta e não vale a pena a indignação que já não leva a lado algum – André Ventura pode mesmo chegar a primeiro-ministro. Se não for agora, poderá sê-lo numa próxima eleição.
É fundamental sabê-lo para que depois não nos queixemos que foi por surpresa que lá chegou.
2.
Direi sobre isso nas próximas semanas.
Mas hoje quero dedicar o postal aos oportunistas.
Aos que vendo o barco onde estão em dificuldade, fogem como ratos de esgoto para os braços de quem lhes possa oferecer casa, roupa lavada, lugar nos restaurantes onde se continuarão a ser vistos e um microfone.
Tem sido penoso ver gente a saltar do PSD para o Chega. E ainda mais penoso ver como se justificam, como gaguejam na sua pornográfica sede de tacho. Como é que esta gente dorme, é o que por vezes me vem à cabeça.
A aproximação do Chega ao poder está a oferecer-nos um espetáculo deprimente e humano. Mas não apenas quando observamos os pobres diabos que deram o salto. Também em intelectuais do PSD, não concertados com Luís Montenegro, que justificam metodicamente o Chega ou até jornalistas com colunas de opinião que, depois de terem diabolizado Ventura, estão agora a ampará-lo porque nunca se sabe o dia de amanhã.
3.
A ganância misturada com os tais ventos de um tempo feito de ideias de plástico, ideias em que tudo é relativismo, onde tudo pode ser justificado por já ninguém querer saber da verdade.
Não importa o que se pensa porque todos sabemos que nada é para vida toda.
Não é o amor.
Não é a ideologia.
Não é o emprego.
Para a vida toda talvez só o futebol e mesmo assim tenho dúvidas.
Sempre houve oportunistas, sempre haverá.
Mas sempre houve também quem os desmascarasse, quem não se tenha importado de pagar um preço para conseguir dormir descansado nas noites mais geladas.
É essa a minha esperança.
E o meu medo.
Texto e programa de Luís Osório
Ouça o “Postal do Dia” na Antena 1, de segunda a sexta-feira, pelas 18h50. Disponível posteriormente em Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e RTP Play.