Coincidindo com uma altura em que vários realizadores fizeram autorretratos, Steven Spielberg aventurou-se também na tarefa de contar a sua própria história. Os Fabelmans, que hoje se estreia nas salas nacionais, é um dos filmes mais aguardados deste fim de ano, sobretudo depois de ter sido recebido com críticas excecionais nos Estados Unidos. Em paralelo com outros retratos semiautobiográficos (como Armageddon Time, de James Gray, Império da Luz, de Sam Mendes, Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson, ou até Annie Ernaux – Os Anos Super 8, da mais recente Nobel da Literatura), Os Fabelmans é indiscutivelmente o filme mais pessoal de Spielberg (embora o realizador, considerado o mestre do entretenimento “escapista”, sempre tenha provido as suas obras de um subtexto também biográfico). Este é um retrato em que o mais amado realizador vivo do mundo (com 75 anos) conta a história das origens da sua paixão pelo cinema, desde a mais remota infância e adolescência, e também a da sua família, sendo simultaneamente uma celebração do poder vital do cinema e uma carta de amor aos seus pais (ambos falecidos ao longo dos últimos cinco anos).
Escrito em parceria com o dramaturgo americano Tony Kushner, que já colabora com Spielberg desde A.I. – Inteligência Artificial (2001), Os Fabelmans permitiu ao realizador partilhar a história da sua vida familiar, ao mesmo tempo que abriu naturalmente margem para alguma medida de liberdade criativa (o próprio título do filme ecoa a ideia de “fábula”). Com Michelle Williams (cuja interpretação tem sido amplamente elogiada) e Paul Dano no papel dos pais de Spielberg (metamorfoseado no filme em Sammy, maioritariamente desempenhado pelo jovem ator Gabriel LaBelle), Os Fabelmans estreou-se bem a tempo de fazer a sua caminhada triunfal até às nomeações para os Óscares, em cuja cerimónia de divulgação, a 24 de janeiro próximo, deverá obter uma generosa colheita.
Passado mais de um mês após a sua estreia no EUA, o filme tem beneficiado do passa-palavra, uma vez que teve de concorrer no fim de semana do feriado do Dia de Ação de Graças com a última sensação da Marvel, numa conjuntura propensa a reuniões familiares que depende muito de um compromisso de unanimidade e de um mínimo denominador comum sobre o que ver nas salas. No entanto, o facto de o filme ter ficado disponível nos Estados Unidos em PVOD (está em aluguer nas plataformas de video on demand desde o dia 13 deste mês) ajudará certamente a engrossar as receitas e o número de espectadores.
Texto de Nuno Camacho
Não perca o próximo episódio de Duas ou Três Coisas. dedicado a Steven Spielberg, esta sexta-feira, depois das 23h, na Antena 1.
João Lopes já viu o filme e conversou com Mónica Mendes no Programa da Manhã da Antena 1.