A 19 de outubro de 1973, alguns dias depois de “matar” Ziggy Stardust em palco, David Bowie partiu para França, rumando aos estúdios do Chateau d’Herouville (onde poucos anos antes haviam gravado Sérgio Godinho, José Mário Branco ou Elton John) para a ali registar um novo álbum. Era um projecto diferente, anunciado como pausa para retemperar energias criativas (se bem que se creia que, na verdade, representou antes uma solução de gestão de tempo enquanto Tony De Fries renegociava o contrato de publishing de Bowie)…
Com alguns músicos novos (mantendo firmes Mick Ronson e Mike Garson), Bowie, que descreveu os estúdios construídos na velha casa de Chopin como um espaço natural para momentos de nostalgia, gravou uma série de versões de canções de bandas e artistas que o haviam influenciado na juventude. Versões naturalmente transformadas pela visão de Bowie e a presença marcante, sobretudo, de Ronson, entre as quais encontramos “See Emily Play” dos Pink Floyd, “I Can’t Explain” e “Anyway, Anyhow, Anywhere” dos The Who, “Where Have All The Good Times Gone”, dos Kinks, “Rosalyn” e “Don’t Bring Me Down” dos Pretty Things, “Here Comes The Night”, celebrizado por Van Morrisson, “I Wish You Would” e “Shapes of Things” dos Yardbirds, “Everything’s Alright” dos Mojos, “Friday On My Mind” dos Easy Beats, “Sorrow” dos Merseys, memórias pessoais da cultura pop de meados de 60 da qual o próprio Bowie foi peão, todavia ainda em jogos secundários.
“Pin Ups” mostra, na capa, Bowie e a modelo Twiggy, numa foto originalmente tirada para a capa da revista “Vogue”. Porém, a indecisão do editor da revista colocada perante a inédita presença de um homem na capa da “Vogue” levou Bowie a contactar directamente o fotógrafo (o dono da imagem), e a dela fazer a sua capa… Twiggy (curiosamente, outra das figuras centrais da swinging London que o disco recorda) mais tarde diria que é a mais exposta e célebre de todas as suas fotografias.
“Pin Ups” teve apenas um single extraído do seu alinhamento. Tratou-se de “Sorrow”, original dos The McCoys, gravado depois pelos Merseys. Bowie confere à versão um travo elegante e clássico, somando com este single mais um momento de sucesso. O tempo acabaria contudo por secundarizar este 45 rotações entre outros mais marcantes na sua discografia dos anos 70. Na verdade, o tempo acabaria até por recordar mais vezes “Amsterdam”, versão de um original de Jacques Brel que surgia no lado B.