1.
Joaquim de Almeida não é um grande ator, mas é uma grande personagem e soube ocupar eficazmente um lugar em Hollywood.
Talvez não haja nenhum ator português com tantos papéis internacionais e é impossível retirar-lhe mérito.
Na maioria desses papéis foi vilão. Corporizou personagens da América Latina, gangsters, traficantes de droga, polícias e sedutores com pronúncia de gato das botas.
Adorei vê-lo numa das temporadas da celebrada série 24, protagonizada por Kiefer Sutherland.
2.
Muita gente o trata carinhosamente por “Quim de Hollywood”. E nos últimos dias voltou a ser falado pela participação no último filme de Roman Polanski, “O Hotel Palace”.
Faz o papel de um cirurgião plástico, o Dr. Lima. E naquele estranho hotel, ocupado por milionários na passagem do milénio, Joaquim contracena com Mickey Rourke, Fanny Ardant e John Cleese.
Nas várias entrevistas em que promoveu a estreia de “O Hotel Palace”, o ator português elogiou Polanski, o polémico, mas extraordinário realizador de “Rosemary’s Baby”, “Chinatown” ou “O Pianista”.
3.
Contou também que o convite partira diretamente do realizador – imaginei-o logo a encontrar-se com o homem num café em Paris para trocar impressões sobre o guião que lhe fora enviado por e-mail.
Não sei se foi assim, só posso saber o que Joaquim de Almeida amavelmente nos contou.
Em primeiro lugar que hesitara na resposta. Apesar da consideração do convite ter sido pessoal, não lhe foi claro que iria aceitar.
É que o guião era confuso.
Tão confuso que “Quim de Hollywood” desabafou com os jornalistas portugueses: “Só fiz este filme por ser do Polanski”.
4.
Gosto de pessoas afirmativas.
Que não se acanham e que não têm vergonha de se colocar ao nível dos grandes, dos maiores.
E que até são generosos.
O Joaquim de Almeida teve a enorme generosidade de entrar no filme do Polanski, fez-lhe um favor em nome do respeito pela carreira do velhote.
Até me deu a ideia de que faria o mesmo pelo Spielberg, pelo Scorsese ou pelo Coppolla.
É preciso ter lata.
Olhando para os filmes em que entrou na sua vida, vendo os argumentos e observando o nome de dezenas de realizadores com quem trabalhou, é preciso ter muita lata.
Hesitou quando Polanski o convidou?
Uau!
Há malta que se leva mesmo a sério.
Texto e programa de Luís Osório
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