1.
O melhor da seleção portuguesa não foi Vitinha ou Diogo Costa. Não foi Nuno Mendes ou Pepe. Não foi Ruben Dias, Palhinha ou Rafael Leão.
O melhor de Portugal, o que marcou o melhor golo, o que galvanizou a Pátria, o que conseguiu mais partilhas nas redes sociais, foi Nuno Matos.
O nosso Nuno Matos que merecia ter gritado mais golos, esperávamos que o tivesse feito, mas a bola não entrou como desejávamos.
2.
O Nuno é um dos grandes.
Ficará na história dos relatos de futebol ao lado de figuras como Jorge Perestrelo e Fernando Correia. Mas o Nuno conseguiu ter sucesso depois de o mundo ter mudado, depois da rádio perder o exclusivo das transmissões desportivas, depois de alguns terem decretado que os relatos de futebol tinham passado à história.
O Nuno tornou-se uma estrela quando já não havia espaço para as estrelas. E é único no seu modo de vida, sempre aparentemente feliz, sempre aparentemente de bem com a vida, a gostar do que faz, encantado com os jogadores como se fosse uma criança, louco pela seleção nacional, a vestir a camisola da Antena 1 e da rádio.
3.
Poucos o viram triste ou a chorar.
Talvez apenas no dia em que recebeu o telefonema da irmã a dizer que a sua mãe Maria, nascida numa pequena cidade moçambicana perto do Zimbabué, estava a morrer.
O Nuno preparava-se para fazer o relato e teve de gritar golo com as lágrimas a ameaçarem-no como nunca antes ou depois. A sua mãe Maria que lhe ofereceu a dimensão de África, a terra larga que o obrigou a ter sonhos também enormes que o ajudaram a subir a mais alta montanha.
O pai Elmano, do vale de Arouca, e a mãe Maria.
E Santarém onde acabaram por desaguar mais o seu pequeno Nuno que fazia relatos em frente ao espelho a ouvir os mestres. Relatava os jogos de hóquei e de futebol e nunca escondeu a vontade de trabalhar na rádio.
Ainda adolescente, ou a sair da puberdade, trabalhou numa Rádio Pirata em Santarém e fez o seu primeiro relato em cima de um telhado.
4.
O Nuno neste Europeu pintou a manta.
Depois dos três penalties de Diogo Costa passou-lhe pela cabeça que conseguiria repetir o golo de Eder, o momento mais bonito da sua vida profissional.
Não foi possível, mas no dia seguinte já estava recomposto e elétrico como sempre.
Ansioso pela próxima viagem, pelo próximo relato, pelo próximo golo.
O Nuno que nunca foi traído pela voz e nunca fez nada por ela. Não a aquece, não bebe chazinhos, é só paixão pelo que faz, pelo futebol e pelas pessoas.
E pelo mundo que conhece do caminho caminhado.
Mais de 90 países, amigos em todo o lado, donos de restaurantes e todo o género de figuras fora da caixa, as pessoas de quem ele mais gosta, pessoas como eles, diferentes da maioria, apaixonadas, especiais e a quem abraça em todas as capitais do mundo.
Nuno, um dia leva-me ao futebol contigo.
Texto e programa de Luís Osório
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