1.
Ser professor deveria ser a mais bela profissão.
Se o mundo fosse menos imperfeito seriam os mais acarinhados, os mais protegidos, os mais valorizados.
É que ser professor não é apenas um trabalho, é uma sementeira, a única que temos, a construção de um futuro, a preparação dos nossos filhos e netos, a aventura de fazermos do país um país maior com gente capaz de nos oferecer mais horizontes, ideias, sucesso.
Mas não.
2.
Os professores são mal pagos, maltratados, pouco valorizados e nada protegidos.
Comem sandes a partir do dia 15, são agredidos física e verbalmente, convocados para escolas a dezenas ou centenas de quilómetros, abandonados num trapézio sem rede ou sem perspetivas de um dia poderem saltar à vontade sem pânico do dia de amanhã.
A história do professor de Educação Física, natural de Ponte de Lima destacado para Elvas, continua a não me sair da cabeça. As imagens da sua carrinha, do seu dia-a-dia, a dormir em parques de estacionamento, a tomar banho na escola e a comer no refeitório são indignas e o símbolo de um tempo.
3.
Sei que já foi resolvido, que Rui Garcia já está mais perto de casa, mas a questão não é essa, uma história não é a floresta, o problema é que a floresta é feita de incontáveis histórias parecidas.
De professores que calam e têm vergonha da sua situação.
Que têm vergonha de pedir dinheiro emprestado, que não podem exercer a sua profissão com liberdade por não serem protegidos na sua autoridade.
4.
Tiraram-lhes o dinheiro.
A autoridade.
O respeito.
A atenção.
E eles e elas, professores e professoras, continuam a ter de fazer o que se espera que façam: construir o futuro.
Mas como podem construir o futuro quando eles próprios estão condenados a não o ter.
Condenados apenas a sobreviver.
E a sorrir, como se fossem bonecos a quem se dá corda.