1.
O Postal de hoje não teria sido escrito se fossemos todos um bocadinho mais normais no modo como recebemos as críticas.

Na maioria das vezes, larguíssima maioria das vezes, levamos a mal se alguém escreve coisas de que não gostamos, não suportamos as opiniões negativas e temos uma reduzida dose de humor sobre nós próprios.

2.

Quando critico alguém já sei que dificilmente a pessoa em causa me voltará a olhar de frente. É quase matemático quando tal acontece e falo por experiência própria.

Já me viraram as costas.
Já passaram para o outro lado da rua.
Já me deixaram ficar de mão estendida ou pendurado num bom-dia.

Há casos em que não é assim, lembro-me de Soares ou Marcelo, mas são exceções à regra.

3.

Toda esta introdução para te falar de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto que, dentro de uns dias, apresentará um livro de balanço dos seus três mandatos.

Há dois ou três anos escrevi agressivamente a propósito da sua aparente arrogância, de uma prepotência que me pareceu marca registada.

Recordo que o chamei de cowboy, uma espécie de reizinho que tratava toda a gente como vassalo.

4.

Este é o contexto e compreenderás que reagi com um sorriso quando um amigo me convidou para moderar uma conversa com ele.

Avisei-o que existia este problema.
Por mim, sim. Mas certamente que Rui Moreira não aceitará estar comigo.

O meu amigo desligou e tornou a telefonar uns minutos depois.
Estás enganado, o presidente da Câmara ficou bastante contente por seres tu.

5.

No dia do encontro, Rui Moreira deu-me um abraço e perguntou-me de onde me viera a ideia peregrina de que ficaria chateado ou me vetaria?

– Era só o que faltava. A democracia é isso, acreditar na liberdade é isso. Nem há assunto. Não gosto menos de si por não gostar de mim, Luís.

Uma chapada de luva branca que agradeci na convicção de que perdi tempo com preconceitos, coboiadas e juízos de valor.

Rui Moreira é, afinal, um xerife de que teremos saudades neste faroeste de feios, porcos e maus sem sentido de humor e grávidos de si próprios.

Gostei de o saber.

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