1.
Faz hoje dois meses que no Estádio da Luz, no dia 8 de fevereiro, dois jovens subiram ao relvado mais felizes do que alguma vez tinham estado.
Um e o outro traziam a camisola do Benfica e a vida corria-lhes na perfeição – não havia uma única coisa que os fizesse duvidar do momento, nenhum dos seus colegas de equipa estava tão rendido à vida.
2.
O dinamarquês Alexander Bah não conseguia deixar de sorrir – a sua mulher estava grávida de gémeos e não havia palavras para a beleza da barriga de Nathalie.
Já o português Manu, uns anos mais novo, sorria tanto como o seu colega. Fora transferido do Vitória de Guimarães e o treinador Bruno Lage logo lhe ofereceu a titularidade.
Multiplicavam-se as opiniões de que era um predestinado, de que era como algodão, de que era pura classe. Entrou naquele jogo feliz e reconhecido pelo que a vida lhe propunha, ser uma estrela, ter 60 mil pessoas a aplaudi-lo, conquistar uma estabilidade financeira com que sempre sonhara.
3.
O estádio estava praticamente cheio.
Um público entusiasmado, perigo de um lado e do outro, nervos e excitação nas bancadas.
Aos 34 minutos, pouco depois da linha do meio campo, no lado dos bancos, Alexander Bah cai desamparado.
Ouvem-se os gritos.
Entra a equipa médica e o estádio fica, quase por magia, em silêncio.
O jogador, pai de gémeos por nascer, sai em maca com as mãos na cabeça.
4.
O jogo recomeça e três minutos depois, rigorosamente no mesmo lugar, cai desamparado Manu.
Ouvem-se os gritos.
Entra a equipa médica e o estádio fica novamente em silêncio…
… desta vez, ensurdecedor.
O jogador, a viver os melhores dias da sua vida, sai em maca com as mãos na cabeça.
5.
No dia a seguir, 9 de fevereiro, a notícia é mais arrepiante.
Alexander Bah e Manu, lesionados com três minutos de intervalo no mesmo lugar do campo, tinham a mesma lesão no mesmo joelho esquerdo, uma das mais graves que um desportista pode ter: uma rutura completa do ligamento cruzado anterior que os condena a um longo martírio.
Foi há dois meses que o Diabo rondou a felicidade e se vingou.
Como explicar isto de outra maneira?
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