1.
Praticamente já não sai do convento.
Está doente, cansado e a falta de mobilidade custa-lhe muito pelo tanto que ama a vida.
É um dos melhores portugueses.
Uma das mais maravilhosas pessoas que conheço e um teólogo desassombrado e radicalmente livre.
2.
O dominicano Frei Bento Domingues ensinou-me sobre o poder e a necessidade de uma revolução do Bem contra a superficialidade. Ensinou-me também sobre o ser humano e as coisas pequeninas que nos distraem.
O questionamento é o combate da sua vida.
Desde os dias em que corria pelas montanhas das Terras de Bouro que os seus olhos são curiosos e procuram as nuvens e as interrogações do mundo, dúvidas originais que façam nascer novas respostas.
Continua a fazê-lo todos os dias na cela do seu convento. Raramente sai dos livros que atravancam todos os bocadinhos de espaço de um quarto onde apenas se pressente uma cama e uma mesa.
3.
Escreve, pensa e reza.
Pergunta e duvida.
Exercita o que tem dentro, o que o fez esperar Francisco antes de Francisco existir, de proclamar o que Francisco proclama antes de o mundo o conhecer.
Antes de ele próprio o conhecer.
Bento que até se entregar a Deus se chamava Basílio e pastoreava ovelhas a quem cantava orações em latim. O pequeno Basílio que não percebia como é que as pessoas não conseguiam tocar o céu…
… e tanto que correu para se aproximar de Deus e desse céu que acreditava estar no topo da montanha da sua juventude.
Continua a correr.
Mesmo que agora esteja parado na sua cela rodeada de livros por todos os lados.
Corre cada vez mais rápido.
Escreve todos os dias.
Fala como se tivesse medo que as palavras lhe fujam.
4.
Sempre que o penso é a palavra liberdade que me ocorre.
Ensinou-me muito acerca de nós e de Deus.
Foi o meu primeiro Papa Francisco.
Sempre atacado pelos que não duvidam.
Sempre atacado pelos ortodoxos de pensamento, pelos que desistiram de tocar o céu.
Um abraço, querido Frei Bento.
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