1.
Na Secundária Dona Maria II, em Braga, professores e colegas chamavam-lhe Manu.
Não era um aluno com boas notas, mas compensava com boa-disposição e a sua quase obsessão em ser útil.
Estava no 12.º ano e faltava pouco para fazer 20 anos. Decidira que ia ser técnico de serviços jurídicos e que depois logo veria as hipóteses de cumprir o sonho da sua curta vida: ser polícia.
2.
Havia colegas que se metiam com ele por ser excessivamente pesado – como queria ele ser aceite na PSP se ao fim de uma corridinha já estava com os bofes de fora?
Manu nunca se importou com as piadas, ia a jogo e ganhava pelo fair-play e sentido de humor.
Habituara-se a ser dono do destino. Os pais tinham emigrado para Andorra, mas nos olhos do miúdo nunca houve ressentimento, vontade de ajustar contas ou qualquer ponta de tristeza.
Manu era alegria.
Os rapazes adoravam-no, as colegas pediam-lhe conselhos, os professores tentavam que estudasse mais, mas não conseguiam levar a mal os resultados abaixo do que podia.
Afinal, era o Manu.
3.
Na madrugada de 12 para 13 de abril, foi com amigos ao Bar Académico onde não era costume ir.
A meio da noite viu alguém pôr alguma coisa na bebida de uma amiga.
Denunciou de imediato a situação.
Gritou, empurrou e desmobilizou os que tentavam drogar a colega.
Ao fim de uns minutos tudo pareceu sanado e fez-se uma festa.
A sua coragem foi exaltada, a amiga agradeceu-lhe, mas quando saiu para a rua havia gente à sua espera. Foi esfaqueado à porta do bar.
Morreu ali.
Esventrado.
4.
Toda a gente adorava o bem-disposto Manu.
Toda a gente nele confiava.
Toda a gente naquele liceu de Braga o chorou.
Toda a gente esteve na homenagem que a escola fez no átrio.
Toda a gente foi ao funeral no espartano Cemitério de Gualtar.
Toda a gente o aplaudiu no seu caminho final.
Centenas, muitas centenas de pessoas saíram de suas casas para aplaudir a coragem de Manu e o seu compromisso com o que é certo, com o que está certo.
Os seus pais, que no dia da despedida, tropeçaram nas próprias lágrimas, podem ficar de consciência tranquila pois a vida do seu filho será para sempre um exemplo.
A maioria dos que nascem não têm essa sorte.
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