Após várias temporadas de trabalhos os primeiros sinais de uma potencial descoberta chegaram a 4 de novembro de 1922. Degraus de pedra surgiam debaixo de entulho junto à entrada do túmulo escavado para Ramsés V e que depois seria usado por Ramsés VI. Ali tinham em tempo sido construídas cabanas para quem trabalhava no vale e poucos imaginariam que a entrada de um túmulo poderia estar escondida sob o corredor de um outro. Mas assim foi. Desentupida a escada e a galeria de entrada uma parede selada, com o nome de Tutankhamon (1341-1323 a.C.), foi finalmente perfurada a 26 desse mesmo mês, revelando uma primeira câmara com objetos que ninguém via há milhares de anos. “Coisas maravilhosas” foi a expressão usada por Howard Carter ao descrever o que via com a ajuda da luz que fizera entrar nessa pequena primeira perfuração. A seu lado o financiador do projeto, o também britânico Lord Carnavon, que adquirira a concessão para as escavações no Vale dos Reis em 1914, escutava as primeiras revelações de uma descoberta que fez história, cativando a atenção não apenas de quem seguia os achados da arqueologia no Egito mas de todo o mundo a quem os media então fizeram chegar a notícia.
A primeira câmara revelou sinais de ter sido visitada por assaltantes que ali terão entrado ainda nos tempos dos faraós. Mas à medida que os trabalhos avançaram e as câmaras adjacentes foram sendo abertas, ficou claro que havia ali espaços onde ninguém havia tocado desde o dia em que o jovem rei egípcio havia sido sepultado. Os sarcófagos que envolviam a múmia estavam inviolados. Esse achado, assim como as muitas peças que foram dali retiradas, todas elas devidamente catalogadas, descritas e fotografadas, chamaram então jornalistas e curiosos que transformaram os trabalhos em curso num fenómeno mediático ao qual nem faltaram episódios de dimensão fantasiosa como a história da mítica maldição que muito deu que falar mas que o tempo trataria de esclarecer.
A opulência e riqueza dos objetos era talvez inesperada no túmulo de um jovem que morrera aos 18 anos após um discreto reinado com apenas uma década de duração. Tutankhamon era, até aí, um nome com ressonância menor na história do Egito, apesar de se crer que seja filho de Akenatón, o rei que instituíra um culto monoteísta ao Sol e afastado das esferas dos poder toda uma elite que, entretanto, e com Tutankhamon, havia regressado. O primeiro achado de um túmulo em grande parte inviolado por salteadores fez do seu nome o mais célebre e popular de todos os faraós.
O tesouro achado no túmulo tornou-se uma das principais atrações do Museu do Cairo, gerou exposições que correram o mundo e estará em lugar de destaque no novo Grande Museu Egípcio que deverá abrir as portas em 2023, no Cairo (junto ao planalto de Gizé).
Texto de Nuno Galopim