Filmado em nove dias e estreado a 25 de setembro de 1963, “Demência 13”, a primeira longa-metragem em nome próprio de Francis Ford Coppola, inclui-se numa corrente de filmes que, nos anos 60, definiram um momento fundamental no cinema de terror marcado por novos autores e novas tendências que, em diversas latitudes, deram um novo fôlego ao género. Sendo um dos muitos exemplos que pertencem à categoria de filmes de baixo orçamento e de série B, e na sequência da então ainda incipiente matriz do subgénero slasher, “Demência 13” reúne um conjunto de personagens que são perseguidas por um assassino cuja identidade só nos é revelada no final.
A partir de um enredo simples possível de resumir numa linha, o mistério do filme anda à volta da ligação que parece existir entre uma rapariga que se afogou há muitos anos no lago da propriedade familiar e uma série de crimes que começam a ocorrer. Misturando influências que despontavam nos filmes do género desde “Psico” (1960), de Alfred Hitchcock, o mais emblemático exemplo na génese da transição e evolução do filme de terror em direção a um estilo mais distinto e pioneiro, “Demência 13” combina elementos característicos de um género que seria levado a novos patamares nas décadas seguintes, explorando as imensas possibilidades da linguagem fílmica e narrativa, desde os enquadramentos até à montagem, particularmente refletidas na forma de filmar o percurso do assassino. O filme acaba por ser uma amostra interessante do que se fez num período em que o género do filme de terror foi aditivado com relevantes contribuições e inovações.
Creditado neste filme apenas como Francis Coppola, o realizador não era ainda o autor consolidado que faria a trilogia de “O Padrinho” (1972-1990), por cuja segunda parte, exemplo raro de uma sequela melhor do que o primeiro filme, ganharia um Óscar de Melhor Realizador, ou um filme tão interessante sobre paranoia conspirativa como “O Vigilante” (1974) ou um monumental e glorioso épico de guerra como “Apocalypse Now” (1979). Desde o musical incompreendido “Do Fundo do Coração” (1981) até ao nostálgico “Peggy Sue Casou-se” (1986), passando por títulos vigorosos como “Os Marginais” (1983) ou “Tucker – O Homem e o Seu Sonho” (1988), e terminando no inspirado e imaginativo “Drácula de Bram Stoker”, Francis Ford Coppola conheceu o seu período áureo entre o início dos anos 70 e o final dos 90. Juntamente com George Lucas, o realizador criou o seu próprio estúdio, a Zoetrope, que produziu não só alguns dos seus filmes, mas também títulos de Lucas anteriores à “Guerra das Estrelas” como “THX 1138” ou “American Graffiti”, e ainda de reputados cineastas como Jean-Luc Godard, Akira Kurosawa, Wim Wenders ou Godfrey Reggio.
Texto de Nuno Camacho
Francis Ford Coppola e Demência 13 estiveram em destaque no episódio desta semana de Duas ou Três Coisas, com João Lopes e Nuno Galopim.