1.
Chamava-se Robert Bernstein e morreu aos 98 anos.
Uma morte santa.
Adormeceu e esqueceu-se de acordar.
Robert nasceu no Colorado.
Marinheiro na 2ª Guerra Mundial, recebeu uma condecoração e seguiu para Stanford onde se licenciou em Engenharia Mecânica.
O pai, duro e sem empatia, empurrara-o para aquele curso…
… trauma que resolveu formando-se em Direito, na Universidade de Washington.
Apaixonou-se por uma católica.
E com ela casou duas vezes.
Numa Igreja Católica que Robert escondeu da sua família judia.
E numa cerimónia judaica que Carol escondeu da sua família católica.
2.
Do casamento nasceram duas filhas, Sharon e Bobbi.
Robert tinha um objetivo maior na vida: ser como pai o que o seu nunca fora, o que cumpriu com distinção.
Um dia, no final da década de 1980, a mais nova contou-lhe que era lésbica.
Robert ficou em silêncio.
Pediu à filha um bocadinho de tempo, precisava de pensar e de respirar fundo.
Robert era um conservador simpatizante do Partido Republicano e nessa noite não pregou olho.
A meio da madrugada começou a escrever uma carta à filha.
Disse-lhe na carta que, a partir daquele momento, estaria na primeira linha para o que precisasse. Disse-lhe que sentia muito orgulho nela. E disse-lhe por fim que tudo faria para ser merecedor da confiança que tivera no pai.
3.
E tudo fez.
Até ao dia em que se esqueceu de acordar, tinha 98 anos.
Partiu durante o sono o homem que nos últimos 40 anos foi uma bandeira contra a discriminação. O homem que representou e era a imagem dos pais de filhos e filhas homossexuais na América.
O homem que, após a madrugada em que não pregou olho, se dedicou a explicar às famílias americanas o que podiam fazer e esperar dos seus filhos gays.
O homem que escreveu dezenas de crónicas nos jornais mais emblemáticos do mundo.
Que participou em marchas, conferências e espetáculos.
O homem que decidiu que o amor é sempre a mais poderosa arma, a única verdadeiramente poderosa e que fica.
Disponível posteriormente em Spotify, Apple Podcasts, YouTube e RTP Play.