1.
Jaime Rebelo morreu depois de ter visto o 25 de Abril.
Foi às manifestações, abraçou e foi abraçado, mas já não viu a praia durante o Verão Quente ou chegou a saber o que foi isso do 25 de Novembro de 1975.
Jaime foi um dos mais respeitados antifascistas, um duro.
Um tipo obstinado, mas sensível.
Corajoso, mas com a consciência do medo.
2.
Jaime nasceu na passagem do século.
Filho de Leopoldina e Gonçalves Rebelo, teve de crescer depressa entre pescadores e operários fabris, nas margens do Sado.
Nasceu em Monarquia, viu os foguetes da República e conheceu gente do movimento anarquista próximo de um Partido Comunista que ainda era permeável a várias correntes ideológicas.
3.
Tinha um verdadeiro talento para a subversão e arregimentou o apoio de uma parte substancial dos pescadores de Cacilhas – a maioria sindicalizou-se no seu sindicato anarquista.
Jaime foi um dos líderes da mítica greve dos 92 dias, em 1931.
A sua ficha já era do conhecimento da polícia que controlava os revolucionários. Fora deportado uns meses para Angola e talvez os seus algozes tivessem tido a esperança de que lhe servisse de emenda.
Não lhe serviu de emenda.
Por isso, quando foi desencadeada a greve que paralisou as fainas e os portos, ele foi um dos primeiros a ser detido.
4.
Salazar ainda não era Presidente do Conselho.
E a PIDE ainda não nascera.
Mas a polícia já torturava.
Não o fazia com métodos científicos ardilosos, mas através de espancamentos, humilhações e chantagens.
5.
Esta é a história de Jaime Rebelo, o anarquista que, depois e apesar disso, ainda combateu na Guerra Civil Espanhola, o homem que terminou a sua vida como tipógrafo do Jornal República e a quem Jaime Cortesão dedicou o “Romance do Homem da Boca Fechada”.
O homem que ainda viu o 25 de Abril
O que ainda abraçou e foi abraçado nas margens do Sado onde é nome de uma avenida.
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