1.
Não sei os nomes de quem manda.
Não falo dos eleitos, dos ministros, secretários de Estado, deputados e até diretores gerais.
Falo dos que mandam na sombra.
Dos que decidem os currículos escolares, o peso de umas disciplinas e de outras, as horas que os professores devem dedicar a umas coisas e não a outras.
Sim, o ministro da Educação, decide o que planta na floresta.
Mas quem são as pessoas que aconselham que a História tenha menos horas e a Filosofia se ofereça aos alunos como ideias e conceitos desgarrados e inócuos?
2.
Não é um fenómeno português, bem sei.
Mas não está o mundo em decadência?
Não nos queixamos do número incrível de idiotas que passaram a dominar os tabuleiros da política, da economia, da sociedade e até da cultura?
Não abominamos os loucos que insultam nas redes tendo cursos superiores? Ou na rua? Ou no parlamento?
3.
Em vez de estarmos preocupados excessivamente com as aulas de cidadania, não deveríamos pensar um bocadinho na maneira como se olha para a cadeira de História?
Na forma como o ensino da História é tratado?
Não contribuirá essa falha para estarmos a construir uma geração de mentecaptos que podem até saber de técnicas específicas, mas não compreendem a ponta de um corno de política, de ideologia, de factos históricos?
Não deveríamos também pensar na Filosofia?
Quem é o miúdo que sai para a faculdade, ou que sai da faculdade, e sabe conversar sobre Aristóteles e Platão, Hegel e Kant, Feuerbach e Nietsche, Marx e Sartre ou Beauvoir?
Não será isso uma brutal limitação para futuros cidadãos comprometidos?
4.
E o ensino de Português?
Serão as cantigas de amigo tão importantes assim para o futuro dos miúdos?
Deveria gastar-se tanto tempo com a gramática da gramática, com a poesia trovadoresca e até com os Lusíadas ou poderíamos aproveitar e dividir as poucas horas que têm com autores mais deste tempo.
A Sophia ou o Herberto, Ruben A. e Cardoso Pires, Lobo Antunes e Saramago, Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto, Lídia Jorge, Torga, Vergílio Ferreira?
Não deveríamos dedicar espaço ao sonho e menos ao que devia apenas ser específico e obrigatório nos cursos de Literatura?
Não deveríamos exercitar mais a escrita e o pensamento?
Não será esse um dos motivos que leva tantos miúdos a serem analfabetos funcionais?
A escreverem com os pés?
A recusarem-se a pensar?
Isto parece-me tão óbvio que me pergunto:
Qual a razão para tudo isto?
Existirá algum interesse que me esteja a escapar?
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