Saltar para o conteúdo
    • Notícias
    • Desporto
    • Televisão
    • Rádio
    • RTP Play
    • RTP Palco
    • Zigzag Play
    • RTP Ensina
    • RTP Arquivos
Antena 1 - RTP
  • Programas
  • Podcasts
  • Vídeos
  • Música
    Nacional Internacional Fado Discos Antena 1 Concertos Antena 1
  • Notícias
  • Semanas Temáticas
  • Programação
  • O que já tocou
  • Outros Temas
    Cinema e Séries Cultura Política e Sociedade

NO AR
PROGRAMAÇÃO O QUE JÁ TOCOU
Imagem de Os Dias que Correm

Os Dias que Correm

Fernando Alves | 7 out, 2024, 08:07

Folheando a Flor Cadáver

A rubrica diária de Fernando Alves nas manhãs da Antena 1, para ouvir e ler.

Imagem de Os Dias que Correm

Os Dias que Correm

Fernando Alves | 7 out, 2024, 08:07

Folheando a Flor Cadáver

A rubrica diária de Fernando Alves nas manhãs da Antena 1, para ouvir e ler.

Imagem de Os Dias que Correm

Os Dias que Correm

O que guardamos dos dias. O que passando, fica. Fernando Alves na Antena 1.

Ver Programa

Não sabemos, não poderemos saber, o tanto que pode um poeta, o modo como o olhar do poeta consegue trespassar os muros, ainda mais os invisíveis. Os indizíveis.

Tantas vezes, as fraquezas do poeta são a sua grandeza. O grande João Gesta, ele próprio poeta, programador cultural, provocador e guardador de poetas, escreveu certa vez “com uma faca entalada no rim solteiro”. Podemos imaginar a musa sobre o muro ou enunciar outro desiderato, há momentos em que o poeta usa sem pudor os superpoderes. “Por ti”, garante um verso do Gesta, “eu estacionava o triciclo do Kropotkine à porta do Pérola Negra”. É no poema em que o vento não leva as promessas. Escutai a última: “Por ti / eu construía uma barraca apalaçada nas margens do poema/ Assim me parece o destino poético: a recibos verdes”.

Há uns anos tive a felicidade de ser convidado por João Gesta para uma conversa sobre anjos com o poeta Jorge Sousa Braga. No palco do Campo Alegre belas criaturas de asas feridas maquilhavam-se com pó de estrelas, enquanto o poeta apresentava anjos caídos de outras línguas. O poeta guardador de anjos.

Muitas luas antes, eramos todos tão jovens, Jorge Sousa Braga apresentou-nos um plano para salvar Veneza. Entretanto explicou-nos que não foi enxofre o que caiu sobre Sodoma, mas pólen. São tramados, os poetas, fazem perguntas a que só eles ousariam responder, pois escapam ao bom senso e à ciência. Escutai esta: “Haverá alguma cidade que resista a uma tempestade de pólen?”. O poeta continua nu, mas a pergunta, esta pergunta, pode ser feita em Gaza daqui a uma década. Daqui a duas décadas.

As cidades mais feridas no osso e na alma são como a flor cadáver que perfuma o novo livro de poemas de Jorge Sousa Braga. A Flor Cadáver e outros poemas. Também há anjos neste livro, lá no fim, depois de folheado o ciclo breve que vai da inflorescência à agonia da flor de Sumatra, com o seu cheiro a carne podre. Antes de nos apresentar os comedores de merda, o poeta dá-nos a cheirar a flor que talvez tenha tudo a ver connosco. É dele o sublinhado: “Em cada flor há um cadáver, em cada cadáver há uma flor”.

Os poemas breves de Jorge Sousa Braga, alguns deles com a estrutura de um haiku, almejam o toque de Midas, o capcioso e insinuante toque sobre a evidência correntemente omissa de que “cada um de nós produz durante a sua vida algumas toneladas de excrementos”. Queres outra evidência omissa? Alguns de outros nós, milhões de outros (particularmente na Índia) “continuam a defecar a céu aberto”.

Chegado à página 27, absorto perante a Cloaca Máxima, como se esperasse a inflorescência da flor cadáver, dou comigo a pensar que os noticiários deveriam ser, uma ou outra vez, editados por poetas. Reparai no verso que daria um rodapé certeiro: “O que é que os esgotos podem dizer de nós? Que estamos cada vez mais sós, cada vez mais sós”.

Mas o poeta parece escolher outro ofício similar e essa escolha é sustentada no poema O Guardador de Retretes: “É uma profissão em desuso/ Fornecia as chaves do WC/ e papel higiénico (por uma moeda) / e assegurava a limpeza/ das instalações sanitárias/ O mais humilde dos ofícios / Não conheço outro / de que tanto se aproxime / o ofício de poeta”.

Texto e programa de Fernando Alves
Os Dias que Correm

Pode também gostar

Imagem de A democracia na gaveta

A democracia na gaveta

Imagem de Jogo da Memória

Jogo da Memória

Imagem de Numa data subsequente

Numa data subsequente

Imagem de O truque de Marco Paulo para enganar o cancro

O truque de Marco Paulo para enganar o cancro

Imagem de Imagina-te a fechar a porta de tua casa pela última vez

Imagina-te a fechar a porta de tua casa pela última vez

Imagem de Os dias circunspectos

Os dias circunspectos

Imagem de Nos lugares habitados pelos derrotados da vida gritou-se hoje por Portugal

Nos lugares habitados pelos derrotados da vida gritou-se hoje por Portugal

Imagem de Na Póvoa de Varzim há um lugar onde vivos e mortos se encontram

Na Póvoa de Varzim há um lugar onde vivos e mortos se encontram

Imagem de Boaventura Sousa Santos ainda acaba no Chega

Boaventura Sousa Santos ainda acaba no Chega

Imagem de O dia de hoje, no mundo

O dia de hoje, no mundo

PUB
Antena 1

Siga-nos nas redes sociais

Siga-nos nas redes sociais

  • Aceder ao Facebook da Antena 1
  • Aceder ao Instagram da Antena 1
  • Aceder ao YouTube da Antena 1

Instale a aplicação RTP Play

  • Apple Store
  • Google Play
  • Contactos
  • Frequências
  • Programas
  • Podcasts
Logo RTP RTP
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Youtube
  • flickr
    • NOTÍCIAS
    • DESPORTO
    • TELEVISÃO
    • RÁDIO
    • RTP ARQUIVOS
    • RTP Ensina
    • RTP PLAY
      • EM DIRETO
      • REVER PROGRAMAS
    • CONCURSOS
      • Perguntas frequentes
      • Contactos
    • CONTACTOS
    • Provedora do Telespectador
    • Provedora do Ouvinte
    • ACESSIBILIDADES
    • Satélites
    • A EMPRESA
    • CONSELHO GERAL INDEPENDENTE
    • CONSELHO DE OPINIÃO
    • CONTRATO DE CONCESSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO DE RÁDIO E TELEVISÃO
    • RGPD
      • Gestão das definições de Cookies
Política de Privacidade | Política de Cookies | Termos e Condições | Publicidade
© RTP, Rádio e Televisão de Portugal 2025