1.
Eça de Queirós está no Panteão e está muito bem.
Interessantes os argumentos dos que não concordaram – que ele nunca o desejaria, que deviam deixar os seus restos mortais sossegados, que a sua terra era o único lugar possível por ser a vontade dos descendentes.
Não me atrevo a entrar outra vez na polémica, já não interessa – Eça está no sítio onde deveriam habitar os imortais.
Nem todos os que lá estão deveriam ter assento nesse Olimpo de carne e osso, mas que não se desvalorize o sentido da homenagem, estar no Panteão é uma honra suprema, a maior que um português pode ter.
Como o Panteão na Quartier Latin para os franceses.
Ou a Abadia de Westminster para os monárquicos ingleses ou até o Panteão de Roma que celebra outros tempos e divindades.
2.
Há um outro motivo que me levou a não ter dúvidas nesta batalha de bisnetos.
Quando observamos os que criticam vemos gente zangada.
Gente ressentida.
Gente incapaz de sorrir, de ironizar ou de marcar uma posição a partir do que foi o seu exemplo de vida.
Mas quando olhamos para Afonso Reis Cabral, vemos luz e um sorriso que ilumina.
Vemos futuro.
E vemos alguém que, desde muito cedo, fez-se ao mundo e pelo seu talento marcou uma posição.
3.
Quando se lançou na literatura com “O Meu Irmão” ninguém sabia que era bisneto de Eça de Queirós.
Ninguém sabia a começar pelo júri que lhe deu o Grande Prémio Leya desconhecendo qual o nome do autor.
Ganhou prémios, escreveu livros para ter impacto neste tempo e a sua escrita é límpida e sem imitações, sem manias, sem arrogância.
E fê-lo sempre sem utilizar um apelido que teria sido a bengala óbvia para um jovem promissor na literatura.
Afonso Reis Cabral disse uma coisa muito bonita que foi talvez a mais relevante.
“Eça entra no Panteão aos ombros dos seus leitores”.
É isso.
Foi uma homenagem a Eça de Queirós, mas também à literatura, às artes, à nossa identidade e à vida no que esta tem de oportunidade permanente, de excessos, de procura, de questionamento, de histórias por contar, de beber da vida até ao fim.
Num tempo em que os livros voltam a ser malditos em tantos lados, celebrar Eça é celebrar a liberdade e o futuro.
Afonso é liberdade, é coragem e é futuro.
Eça está a borrifar-se por ir para o Panteão. Talvez ainda dê umas voltas com Eusébio ou vá aos fados com a Amália, quem sabe?
Mas aposto que, entre os seus descendentes, não hesitaria em escolher os que sorriem.