1.
José Castelo Branco é um personagem.
A certa altura passou a ser prova de uma certa ideia de cosmopolitismo, de uma modernidade que chegara a Portugal.
Uma modernidade saloia, um cosmopolitismo dos pobres que aspiram à ocupação do espaço mediático.
Em Lisboa, após o 25 de Abril, existiam os realmente chiques.
Manuel Reis tornou o Bairro Alto num lugar de inovação e inovadores.
Fernando Fernandes e José Miranda abriram a porta ao mundo dos ricos, famosos e influentes a partir do Pap’A Açorda.
No Porto, idem. O cosmopolitismo na Invicta estava bem mais desenvolvido do que na velha capital do Império.
2.
José Castelo Branco nunca pertenceu a essa primeira divisão.
Inteligente, soube interpretar o momento histórico e conquistar espaço.
A sua excentricidade e confiança fizeram o resto.
Ganhou terreno nas passerelles da noite.
Tornou-se palhaço de serviço nas televisões.
E com inegável mérito deixou de ser palhaço para se tornar marido de Betty, a joalheira internacional, milionária e que o credibilizou.
3.
Passou a ser marchand.
A ter assento em programas mais ambiciosos, a ser convidado para vernissages onde antes era barrado à porta.
Castelo Branco tornou-se um herói do povo, uma atrevida “My Fair Lady” que mandou tatuar o guardanapo com as suas iniciais nas mesas grandes onde antes não se sentava.
4.
Também me ri com Castelo Branco.
Mas a história de alegada violência doméstica em relação à mulher que o legitimou terminou com qualquer vontade de continuar a fazê-lo.
Mesmo que seja inocente das acusações feitas pelo Ministério Público.
É que ver Castelo Branco continuar em personagem.
Vê-lo a ridicularizar a justiça.
Ouvi-lo a falar da sua única preocupação com esta maçada do julgamento: ter de escolher a toilette.
Não é provar a sua inocência, não é defender-se da acusação que diz ter provas suficientes que batia e torturava uma velhota com quase cem anos…
…não, isso dá de barato.
O que importa é saber o que vestir em cada dia.
Muitos ainda acham graça.
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