1.
Nasceu no primeiro de dezembro de 1941.
Talvez no dia em que nasceu não se tenha comemorado a Restauração… a Europa estava destruída pela guerra, Hitler ameaçava engolir o mundo e Salazar, numa falsa equidistância, aguardava pelo bafo da história para dar o próximo passo.
Nos mares revoltos da Nazaré nascia um dos melhores portugueses e os seus pais, José Lúcio e Libânia, batizaram-no de Álvaro…
…Álvaro Laborinho Lúcio.
2.
Completou há uns dias 83 anos.
E é uma das pessoas mais jovens que conheço.
Sempre que o vejo ou escuto sinto-me privilegiado e com uma enorme vontade de saber mais, de ler mais, de conhecer mais, de lutar por uma ideia de liberdade.
Laborinho Lúcio é um espírito livre que nos baralha convenções e certezas com palavras que nunca ouvimos ditas daquela maneira, da sua maneira.
Faz-nos rir, mas horas depois de nos rirmos percebemos que devemos pensar um bocadinho nas palavras que estavam escondidas nas palavras que disse.
Faz-nos saber mais, obriga-nos a procurar com as suas perguntas.
Não nos agride a ignorância, pelo contrário – quando nos dá uma opinião esta é aberta, nunca ortodoxa e dogmática.
3.
Foi inspetor do Ministério Público.
Ministro da Justiça.
Juiz e diretor da escola de juízes.
Procurador.
Professor.
Escritor com vários livros publicados.
E ator, um ator brutal, surpreendente, vê-lo nas Correntes D’Escritas a representar o papel do mítico bibliotecário da Póvoa de Varzim, Manuel Lopes, é uma experiência única que deve ser feita pelo menos uma vez na vida.
4.
Álvaro Laborinho Lúcio nasceu no mar da Nazaré e foi filho único.
Tem uma enormíssima vontade de viver.
Talvez por isso me pareça mais jovem do que eu.
Numa entrevista, disse o essencial:
“Tenho 83 anos e desejo demorar o máximo tempo a estar velho e a morrer. A vida é um contínuo fantástico”.
Tão bonita a frase, tão certeira.
Um homem maior que vive apaixonado pela vida.
Que nos ilumina com as suas palavras embrulhadas noutras que esconde para nos obrigar a pensar.
Ou para nos obrigar a não desistir de abrir os olhos ao encantamento de estar aqui.
Texto e programa de Luís Osório
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