1.
Ler não nos faz melhores pessoas.
Nem sequer nos estimula a ser boas pessoas – isso dependerá sempre do que se ler. Desculpa se te desiludo, mas só os livros literariamente menos interessantes ou de autoajuda podem cumprir esse objetivo pueril.
2.
Ler também não nos facilita nas relações.
Não somos melhores pais ou filhos se lermos Dostoievski, Camus ou António Lobo Antunes.
Nem melhores amantes ou namorados se formos ávidos leitores.
Da mesma maneira que nos ajuda pouco a ser melhores amigos ou pessoas solidárias ou generosas.
3.
Ler não tem nada a ver com a empatia.
Não acredites em alguns dos que o proclamam.
É simplesmente mentira.
Podes ler um livro por semana, ter uma biblioteca a perder de vista ou saberes citar “Os Passos em Volta”, os versos emblemáticos da “Mensagem” ou a saga trágica de “Romeu e Julieta”, mas isso não te garante empatia e a compreensão das mais elementares regras de convívio entre pessoas.
4.
Ler não impede que sejas empático, boa pessoa, bom amante, bom pai ou filho.
Mas não é por isso que ler é importante – porque se fores naturalmente tudo isso, mesmo que não tivesses lido um livro não o deixarias de ser.
Os grandes canalhas eram leitores.
Adoravam ler.
Tanto como os que mudaram o mundo do avesso.
Também eram leitores.
5.
Então qual a razão para lermos e influenciarmos os nossos filhos a ler?
A resposta é simples.
Quem lê está mais preparado para ser o que quiser ser.
Para ser livre e informado nas suas decisões.
Para compreender a condição humana.
E para se compreender a si próprio.
6.
Quando lemos estamos sozinhos com o livro.
Estamos connosco e é nessa viagem que alargamos e nos tornamos maiores.
Vivemos vidas extraordinárias que não são as nossas.
Se não lermos vivemos apenas a nossa – uma amputação que nos obriga a ser do tamanho do nosso próprio umbigo.
E se não lermos limitamo-nos a viver o nosso tempo histórico, o que nos condena a ruas estreitas.
Ler é decisivo.
Mas não digas que ler nos faz melhores pessoas.
Seria bom, mas não é verdade.
Ler faz-nos maiores…
…para o bem e para o mal.
Ouça o “Postal do Dia” em Apple Podcasts, Spotify e RTP Play.