1.
São complexas e difíceis de compreender as razões para que uns tenham mais sucesso do que outros.
Talento, certo.
Trabalho, claro.
Sorte de estar no lugar certo.
Capacidade de compreender o que as pessoas querem no momento que as querem.
Boas companhias.
Um pozinho de destino, quem sabe?
Se conseguirmos misturar os ingredientes então a coisa funciona mesmo – alguém com talento, que trabalha, tem sorte, compreende o que o mundo pede, se rodeia de gente influente e é protegido pelo destino, bem…
… não há muito que possa ser feito.
Terá inevitavelmente um enorme sucesso.
2.
Também há os que têm umas coisas e não outras.
Têm talento e não trabalham.
Trabalham, mas não têm talento.
São amigos de quem importa, mas nunca estão no lugar certo.
Ou estão no lugar certo, mas não têm amigos influentes.
Há ainda os que sabem o que as pessoas desejam, mas têm o azar de não ser bafejados com o destino.
Podia continuar por aqui.
Baralhar e voltar a dar.
3.
Voltas e voltinhas para te falar de um humorista.
Um humorista com sucesso, mas que não tem um sucesso proporcional ao talento, influência e eficácia que mostrou nestes últimos trinta anos.
Falo do Nilton.
Um nome artístico que é nome próprio.
Será isso?
Se tivesse optado por ser Nilton Rodrigues teria sido diferente?
Não sei, mas tenho a certeza da sua rapidez, inteligência e capacidade de juntar informação com o objetivo de fazer rir.
4.
Não há ninguém em Portugal capaz de, em completos improvisos, fazer humor ao minuto a partir do que acabou de ouvir.
O que todos os anos faz no TEDxPorto é um exemplo entre vários que poderia escolher.
Disse-lho quando nos cumprimentámos.
Perguntei-lhe até:
“Quem és tu, Nilton?”
Ele sorriu e manteve o silêncio.
Sei que tem uma mãe que se chama Persea.
Sei que nasceu na Angola portuguesa e que regressou, bebé de colo, nas pontes aéreas de retornados.
Sei que foi viver para Proença-a-Nova.
Que atingiu uma enorme visibilidade na televisão e na rádio.
Que se incompatibilizou com pessoas, que não consegue deixar de dizer o que pensa, que preserva a sua liberdade e a casa que construiu.
Sei que tem dois filhos.
Sei que é um tipo apaixonado e pragmático.
E sei que o contrataria se pudesse contratar alguém.
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