1.
Conheço Nuno Lopes há mais de vinte anos.
Não somos amigos, mas trabalhámos juntos na única peça de teatro que encenei.
Vale o que vale, não é o suficiente para te jurar que por ele punha as mãos no fogo. Porém, é mais do que suficiente para te contar dele, do que eventualmente não sabes, do que sei e me leva a escrever este postal.
2.
O Nuno está a ser acusado de violação por uma argumentista americana.
O processo está a andar e nota-se no Nuno a carga do que lhe aconteceu. O seu sorriso grande mantém-se, mas passou a existir uma sombra de tristeza, um peso que o empurra para um inimaginável purgatório.
Não posso dizer que é inocente.
Mas se fosse culpado, se fosse verdade o que a argumentista declarou, seria a maior surpresa que teria na vida.
3.
É que o Nuno Lopes é amizade em estado puro – uma pessoa que se preocupa genuinamente com os outros, que está presente quando precisamos, que ajuda sem esperar nada em troca.
É que o Nuno é generosidade para com os jovens atores e atrizes. Ajuda-os, abraça-os, passa texto, diz-lhes do teatro, do cinema, da televisão, partilha o que sabe.
É que o Nuno é tão boa pessoa.
Repara, não te estou a enganar.
Ele não é meu amigo, não me atravessaria assim se não o achasse…
…o Nuno é mesmo boa pessoa.
Por isso, tem sido amparado por tantas mulheres que estão na primeira linha entre as que têm lutado contra a discriminação de género.
Tantas pessoas que, ao contrário de mim, o conhecem profundamente e arriscam saltar sem rede por ele.
4.
Nuno Lopes é um talento, um dos grandes atores portugueses.
Mas também um homem que nunca quis a popularidade a todo o custo – por isso, não ficou no Brasil quando lhe acenaram com a glória mediática e as pessoas se atropelavam no Leblon ou em Copacabana para lhe tocar.
Nuno é reconhecido, mas preferiu sempre fazer as coisas sem atropelar ninguém, sem violentar a sua dignidade e os seus princípios.
5.
Não ponho as mãos no fogo por quase ninguém, sabemos lá, mas sei que o Nuno Lopes é uma pessoa maravilhosa. E as pessoas maravilhosas não o são em part-time.
Vê-lo a violar alguém é inverosímil, não cola, é aviltante e patético.
Um dia, o Nuno disse-me assim: olha, Luís. Quero muito ser o melhor possível, é a única coisa que me importa. Deixar uma marca, mas que não seja a do sucesso que se esfuma ao primeiro embate com a realidade. Quero ser uma boa pessoa, o melhor ator que conseguir e o melhor colega.
É isso.
Não me esqueci, Nuno.
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