1.
António Victorino de Almeida faz hoje 85 anos.
Nasceu em Lisboa, filho de uma família com dinheiro e bom gosto. Nasceu com o privilégio de ter livros e um piano perto das mãos.
Aos cinco anos compôs a sua primeira obra e aos sete foi aplaudido de pé num primeiro recital. Um menino prodígio, o nosso pequeno Amadeus, a prova de que há uma chispa de genialidade que parece não ser controlável pelo instinto humano.
O mundo acabara de sair da Segunda Guerra Mundial e António desejava viver tudo o que pudesse.
Queria compor, mas ouvir.
Queria tocar, mas também ler bibliotecas, ver filmes, seguir as artes, comunicar.
2.
Tirou o curso superior de piano e estudou composição em Viena onde obteve a nota mais alta de sempre na influente Academia de Música.
Ficou na Áustria mais de vinte anos.
E depois do 25 de Abril fez programas de televisão.
Lembro-me bem do espanto pela maneira como dizia as palavras, como nos contava histórias de compositores e composições, recordo-me de o ver em Viena rodeado de neve e de história a enfeitiçar-me de novos mundos…
…eu que em miúdo nunca saíra do meu bairro.
3.
António Victorino de Almeida faz hoje 85 anos.
É um enorme português.
Poderia ter atingido o panteão dos compositores ou pianistas universais, mas se tivesse atingido tal paraíso não seria o que hoje celebramos.
Porque o António nasceu para ser muita coisa, nasceu com uma sede permanente de ser quase tudo.
Pianista, compositor e maestro.
Escritor e dramaturgo.
Político e cineasta.
Ator e comunicador.
Pai e professor.
Diplomata e programador.
Parabéns, caro maestro.
Parabéns pelos 85 anos, pelo que nos deixa, pela inquietação, liberdade e por um genuíno espanto pela vida.
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