1.
O corpo do Papa foi sepultado no sábado na Basílica de Santa Maria Maior, no centro de Roma.
Era o sítio onde Francisco se refugiava em oração. Acontecia quase sempre ao regressar de alguma viagem ou antes de um encontro ou decisão importante – o Santo Padre sentia a presença da Virgem Maria, a presença da Mãe que venerava.
Um dia passou por uma porta que levava a uma sala que guardava candelabros. Francisco pensou logo que seria ali, que era aquele o lugar onde ficaria.
2.
Não dentro do Vaticano, não na cripta, não em três caixões como era da norma, mas apenas num único caixão.
O caixão de um pastor, de uma pessoa como nós, de alguém que nunca quis deixar de ser um homem.
No sábado foi sepultado numa Basílica onde está guardada a memória de sete papas, o último dos quais Clemente IX, “adormecido” em 1699.
A cerimónia foi simples, a mais simples de que as nossas gerações terão memória.
3.
Tenho pensado muito sobre a sua vida, o seu exemplo.
Pensado acerca deste mundo perversamente desordenado, pensado no que nos deixou, no que sacrificou e arriscou.
Eu, católico não praticante.
Eu, sempre tão defensivo no comprometimento.
Eu, muitas vezes a defender-me de qualquer tipo de risco, a falar dos problemas e desafios sem meter as mãos na massa, sem arriscar.
Eu, tantas vezes desconfiado da Igreja Católica, dos pavoneios, do conservadorismo, das sombras de poder e dos vendilhões do tempo dentro da hierarquia, de muita da elite da Igreja Católica portuguesa.
Tenho pensado tanto em Francisco.
O mínimo que posso fazer é oferecer o melhor de mim, converter-me sem reticências.
Fazer as comunhões e comprometer-me com uma ideia de transcendência.
Vou fazê-lo em honra do legado que nos deixou o homem que agora repousa no centro de Roma, o nosso Francisco que finalmente pode estar perto das pessoas comuns que não podem ver atraiçoado o seu legítimo direito à esperança.
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