1.
Uma nova versão de Branca de Neves estreou nas salas de cinema do mundo.
O filme tem uma Branca de Neve adulta e uma criança, tem uma Rainha Má, o Príncipe Encantado, o Espelho e os Sete Anões.
Só que os sete anões não são anões, mas figuras criadas digitalmente.
Não deixam de ser assustadores e bonzinhos e amigos da Branca de Neve, mas a Disney não quis ferir suscetibilidades e preferiu fazer assim, não correr o risco de centenas de fanáticos irem para a rua protestar contra os que usam anões por serem anões.
2.
Na indústria da ficção, com a morte de David Lynch e o fim da Guerra dos Tronos, já não há trabalho para anões.
Porque eles, mesmo que não concordem, têm de ser protegidos da sua “enfermidade”.
Não podem correr o risco de as pessoas se rirem por serem mais baixos que os baixos, por serem usados por realizadores sem escrúpulos ou para gerarem receitas que são uma vergonha.
3.
No início da produção do filme chegaram a fazer um casting discreto para anões – discreto, mas muito concorrido por atores americanos, ingleses e várias outras nacionalidades.
Gente talentosa que desejava aproveitar a oportunidade para poder brilhar num filme de grande orçamento, ainda por cima um clássico.
Mas o entusiasmo dos atores transformou-se numa enorme desilusão.
Tinham afinal de ser protegidos de si próprios.
Não podiam andar por aí a serem explorados por gente oportunista.
Aliás, não podem continuar a ser atores.
Serão os primeiros a compreender a imoralidade e o que está em jogo.
4.
Entenderão certamente que é tudo para o seu bem e que um dia agradecerão a esta nova inquisição, um dia agradecerão a este novo fascismo mascarado de virtude politicamente correta, um dia abraçarão esta malta que nunca fez a realíssima ponta de um corno pelo bem comum…
Um dia os anões, agora sem trabalho por serem anões, agradecerão por hoje terem que pedir dinheiro emprestado para ir ao supermercado comprar 150 gramas de fiambre e uma sopa instantânea.
Ouça o “Postal do Dia” na Antena 1, de segunda a sexta-feira, pelas 18h50.
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