Cumpre-se hoje precisamente uma semana sobre a morte, aos 87 anos, do realizador norte-americano William Friedkin. Com uma longa e prolífica carreira no cinema e na televisão, o realizador foi uma das figuras de relevo da geração de modernizadores do cinema americano dos anos 70 e também um dos principais impulsionadores do que ficou conhecido como “nova Hollywood”.
Com Os Incorruptíveis contra a Droga (1971) ganhou um dos cinco Óscares que o filme conquistou (superando Stanley Kubrick com A Laranja Mecânica) e voltou a ser nomeado, dois anos depois, por O Exorcista (1973), um dos mais lendários e assombrantes títulos da história do cinema de terror que seguiu as pisadas de A Semente do Diabo, de Roman Polanski, ao revestir o moderno filme de terror de uma aura de “classe e respeitabilidade” (embora o realizador e o autor do livro em que o filme se baseia nunca tenham pensado nele como parte integrante desse género).
Mas o apogeu representado por The French Connection foi precedido ainda por The Boys in the Band (1970), um outro título digno de nota que adapta uma peça de teatro (com o mesmo elenco da encenação original) sobre um grupo de amigos gays. Na mesma linha temática, mas em chave de thriller, Friedkin iniciou a década de 80 com Cruising, uma história lúgubre e intensa em que Al Pacino interpreta um polícia à paisana que se infiltra no mundo da subcultura sadomasoquista gay para poder capturar um assassino.
Em meados dos anos 80, Viver e Morrer em Los Angeles (1985) provou que a apetência do realizador para coreografar sequências de ação na trilha do que fizera em The French Connection se mantinha intacta ao revelar-se ágil na construção de um thriller de ação criminal sobre um agente dos serviços secretos disposto a tudo para vingar a morte de um colega. A partir daí, o génio do realizador ficou um pouco à míngua, mas ressurgiu já neste século com dois filmes que voltaram a ser elogiados pela crítica, Bug (2006) e Killer Joe (2011), ambos a partir de peças de Tracy Letts. Estes dois thrillers claustrofóbicos em jeito de huis-clos são peças de câmara atraentes sobretudo pelo nível de loucura e excessividade que comportam – o primeiro encena uma folie à deux sob a forma de um delírio de infestação vivido pelas personagens de Michael Shannon e de Ashley Judd, enquanto o segundo se centra na história de um golpe familiar e conta com as interpretações empenhadas de Matthew McConaughey e de Emile Hirsch.
Texto de Nuno Camacho
William Friedkin foi um dos destaques no mais recente episódio de Duas ou Três Coisas, com João Lopes e Nuno Galopim.