1.
É hoje a estreia de Portugal no Euro 2024.
Estaremos à frente da televisão como se fossemos família.
E somos.
Falamos a mesma língua e se estiveres na casa dos 50 vimos o Dartacão, o Tom Sawyer e os Jogos sem Fronteiras, mais o Sandokan, o Dallas, o Zé Gato e as novelas brasileiras – sabes que ainda me lembro vagamente da Gabriela e do Casarão?
2.
É hoje que Portugal joga com a República Checa que agora tem outro nome.
Estarão connosco os filhos ou os netos.
Incrível como o tempo passa, já vestem a camisola de Portugal e até já discutem as opções do selecionador.
Os mais pequenos nunca ouviram falar do Chalana, do Jordão, do António Simões ou até do Eusébio. São sempre eternos os pequeninos, o tempo começou a contar quando nasceram, o futuro é totalitário e ainda bem que o é – que a morte lhes esteja arredada do pensamento por muitos e longos anos.
Estarão em campo os nossos jogadores e vai-me passar pela cabeça, talvez pela tua também, os que já não estão.
Os nossos pais, avós, tios, amigos.
3.
Portugal entrará em campo e daqui a bocadinho já haverá onzes iniciais.
É sempre sublime estarmos no mesmo barco.
Foi mesmo a única coisa menos má na pandemia, o estarmos juntos na mesma estrada, o podermos adoecer e morrer num destino comum que nos podia e devia ter aproximado mais.
Se ganharmos começaremos a sorrir.
E se tivermos a possibilidade de chegar aos jogos finais não hesitaremos em abraçar-nos, mesmo que em nós nada seja comum, mesmo que estejamos em hemisférios opostos.
4.
O golo é sempre um regresso à infância.
Um regresso aos jogos na rua quando as balizas eram portas e o futuro um lugar distante.
E mesmo para quem não gosta de futebol, os jogos de Portugal são o que na família era bom, o encontro, o gritarmos juntos, também a chegada do Verão, a ausência de preocupações durante aquele pedaço de jogo e esperança.
O golo une ricos e pobres.
Canalhas e anjos.
Progressistas e conservadores.
Velhos e novos.
Mulheres e homens.
Cultos e analfabetos.
Grande responsabilidade a dos jogadores da seleção: serem o nosso motor de esperança ou de frustração.
Dependerá deles o grau da nossa felicidade ou revolta.
Texto e programa de Luís Osório
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