1.
Ser irmão de João Baião é bem capaz de não ser fácil quando também se é artista.
O José Baião teve uma carreira profissional bem-sucedida numa empresa do Estado, mas toca guitarra e canta.
Ele já era o artista da família mesmo antes de João ainda saber andar. Os pais viam nele, com toda a preocupação, um futuro nas cantorias e nas fadistagens.
Entretanto o João e a irmã Maria do Rosário cresceram. O mais velho José continuou a cantar, a tocar e a imaginar palcos.
E o João, onze anos mais novo, via o irmão com orgulho, era aquela vida de artista que também ambicionava – pensou-o mesmo antes de o pensar conscientemente.
Talvez o José o tenha percebido, não sei.
O certo é que o levou para o teatro.
Mostrou-lhe os palcos e alguns artistas da época das suas juventudes, gente com quem fizera amizade.
Artistas que viam o José Baião como um entre pares e o João como um jovem forasteiro em visita.
2.
José tem agora 68 ou 69 anos.
Continua nos fins de semana, muitas vezes sozinho, a pegar no carro e a circular entre clubes recreativos e casas de fado.
Toca, canta, participa em tertúlias, alimenta amizades de décadas e abre sempre as portas para que possam entrar amigos novos.
Os seus ouvidos já se habituaram ao som em surdina…
… “olha o irmão do João Baião”
… “parece tão mais calmo do que o irmão”
… “sabes quem é aquele com a guitarra?”
3.
O José é um homem interessante.
Teve a sua carreira e abdicou de ser artista quando o João já o era.
Nunca deu o passo por falta de coragem, nunca assumiu a sua paixão apesar do João lhe dizer para ter confiança, para acreditar em si, para ir em frente.
Não foi em frente, mas viu o João tornar-se uma das mais incontestadas estrelas portuguesas.
E não se inibiu de continuar a fazer o seu caminho.
Texto e programa de Luís Osório
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